quarta-feira, 26 de abril de 2023

Mudamos! Conheça o site CB, the wine hunter (https://www.cbthewinehunter.com.br)!

Aos nossos leitores,

Após mais de uma década nesse espaço, com mais de 140 artigos em torno do vinho, inicia-se uma nova fase, com um novo site (e não mais um blog): CB, The Wine Hunter.


Lá estarão a maior parte dos posts publicados aqui e novos artigos.

Ao amigo leitor e entusiasta dos vinhos, fica o convite de acompanhar essa nova fase! De preferência com uma taça de vinho!

Saúde! Cheers! ¡Salud! Santé! Salute! Prost! Sláinte!

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Cava, o Clássico Espumante Espanhol


Os vinhos de Champagne são os espumantes clássicos e mais procurados para celebrações, em especial na virada do ano. Porém, existem alternativas de excelente qualidade e com preços mais acessíveis. Dentre elas, as Cavas se destacam.

 As Cavas são os espumantes espanhóis elaborados pelo mesmo método que os vinhos de Champagne, isto é, pelo método clássico com segunda fermentação em garrafa, e sempre compreendidas na denominação de origem protegida de mesmo nome.

 As Cavas surgiram na segunda metade do século XIX, na região do Penedés, com especial destaque para a vila de San Sadurní d’Anoia, quando produtores locais começaram a elaborar vinhos espumantes seguindo a mesma técnica de Champagne, isto é, com uma provocada segunda fermentação em garrafa.

 Esses vinhos espumantes eram guardados para amadurecimento em instalações subterrâneas que mantinham a temperatura e a umidade adequadas, e que eram chamadas de “cavas”. Assim, o nome Cava acabou por batizar os vinhos espumantes espanhóis.

 Entre 1986 e 1989 a denominação de origem Cava se consolidou. No entanto, a DO Cava não se restringe apenas a uma região específica, mas sim a quatro zonas em pontos diversos da Espanha. São elas: Comtats de Barcelona, Valle del Ebro, Viñedos de Almendralejo e Zona de Levante.

 A zona de Comtats de Barcelona, localizada na Catalunha, é a responsável por 95% da produção de Cava, contando com a vila de San Sadurní d’Anoia, conhecida como a capital da Cava.

 Desde 2020 Comtats de Barcelona conta com cinco subzonas, em um esforço do conselho regulador de destacar os respectivos terroirs: Valls d’Anoia-Foix, Serra de Mar, Conca del Gaià, Serra de Prades e Pla de Ponent.

 Já a zona do Valle del Ebro fica na província de Aragón, e é a mais setentrional das zonas. Subdivide-se em duas subzonas: Alto Ebro e Valle del Cierzo.

 A zona chamada de Viñedos de Almendralejo se localiza na região da Estremadura, na localidade de Tierra de Barros ao sul de Mérida e a leste de Badajoz.

 Por fim, a denominada Zona de Levante se localiza na vila de Requena no interior da província de Valencia.

 A denominação de origem protegida Cava exige que os espumantes sejam elaborados com uma provocada segunda fermentação em garrafa e apenas com uvas autorizadas, podem ser monovarietal ou um corte de diversas uvas.

 As uvas autorizadas para a produção de Cavas são: Macabeo, Xarel-lo, Parellada, Malvasia (Subirat Parent) e Chardonnay (uvas brancas), Pinot Noir, Garnacha Tinta, Trepat e Monastrell (uvas tintas).

 Dentre as principais uvas usadas, a Macabeu (chamada na Rioja de Viura) aporta aromas cítricos e sutis notas de amêndoas; a Xarel-lo contribui com aromas florais e notas de pera e de melão; e a Parellada contribui com sua acidez alta e notas cítricas. Essas três uvas clássicas juntas criam um perfeito conjunto, com vinhos espumantes secos.

 A Pinot Noir é comumente utilizada para Cavas rosadas e, não raro, sozinha.

 Por outro lado, as uvas tintas podem ser usadas para a elaboração de Cavas brancas (Blanc de Noirs).

 As Cavas podem ser de safras específicas, ou non vintage, isto é, elaboradas com vinhos base de anos diversos de forma a manter o estilo.

 Dividem-se ainda em quatro categorias, que são relacionadas a seu tempo de amadurecimento em garrafa. São as seguintes categorias:

·         ·     Cava de Guarda: a categoria mais simples, com mínimo de 9 meses de envelhecimento em garrafa;

 ·     Cava de Guarda Superior Reserva: mínimo de 18 meses de envelhecimento em garrafa;

 ·        Cava de Guarda Superior Gran Reserva: mínimo de 30 meses de envelhecimento em garrafa;

 ·        Cava de Guarda Superior de Paraje Calificado: mínimo de 9 meses de envelhecimento em garrafa e oriunda de um vinhedo ou parcela de vinhedo único e especial, expressando o terroir local.

 As Cavas rosadas seguem as categorias anteriores, com exceção da Cava de Guarda Superior de Paraje Calificado, que é exclusiva das brancas.

 De modo muito similar aos vinhos de Champagne, as Cavas se classificam também em relação à adição de açúcar decorrente do licor de expedição ou dosage (uma mistura de vinho base com ou sem açúcar,  acrescentada após a retirada das leveduras mortas):

 ·        BRUT NATURE: 0-3 G/L

 ·        EXTRA BRUT: 0-6 G/L

 ·        BRUT: Max.12 G/L

 ·        EXTRA SECO: 12-17 G/L

 ·        SECO: 17-32 G/L

 ·        SEMI SECO: 32-50 G/L

 ·        DULCE: +50 G/L

 Como visto, há todo um mundo a descobrir com as Cavas, uma excelente alternativa aos Champagnes.

 ¡Salud!

segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Somm TV, a Netflix do Vinho

 Podemos dizer que o filme Sideways – Entre Umas e Outras (2004) do diretor Alexander Payne popularizou não apenas a uva Pinot Noir (em detrimento da Merlot) como também os filmes que tenham como tema principal ou como pano de fundo o vinho e a gastronomia.

 Claro que já havia filmes anteriores como Festa de Babette, de 1987; Caminhando nas Nuvens, de 1995 ou documentários como Jancis Robinson's Wine Course, gravado em meados da década de 1990 para a BBC, em torno do vinho e da gastronomia.

 Muitos foram os filmes e documentários que surgiram na década de 2000 e na seguinte. Mondovino de Jonathan Nossiter; Reserva Especial com Renato Machado; Sour Grapes de Reuben Atlas e de Jerry Rothwell foram alguns, e filmes diversos como Bottle Shock de Randall Miller.

 Dentre esses diversos filmes e documentários surge, em 2012, um documentário sobre a árdua preparação para os exames para se sagrar Master Sommelier: Somm, de Jason Wise.

 Com o sucesso do primeiro Somm, seguiram-se mais dois documentários: Somm – Into The Bottle (2015) e Somm 3 (2018), ambos de Jason Wise. O segundo filme da série explora o vinho pelo mundo, como é elaborado, as pessoas envolvidas; e o terceiro aborda duas degustações que lembram o Julgamento de Paris de 1976 - na verdade, esse episódio é a inspiração das conversas entres os degustadores, todos grandes estrelas como Jancis Robinson e o falecido Steven Spurrier.

 Com o sucesso de crítica, Jason Wise e sua equipe decidiram criar um serviço de streaming focado em filmes e documentários sobre vinhos, cervejas, spirits e gastronomia: o Somm TV. 

Além de clássicos como A Year in Port, A Year in Champagne, A Year in Burgundy, Bottle Shock, Sour Grapes, e os três filmes da série Somm, o serviço de streaming ainda traz títulos pouco conhecidos no Brasil, como Boom Varietal, Blood Into Wine, El Camino del Vino e Decanted.

 E no melhor estilo Netflix ou Amazon Prime, a Somm TV traz suas próprias produções originais como as séries de curtas Verticals e Cellar Stories (o primeiro episódio sobre a veracidade ou não de uma garrafa de Château d’Yquem 1942 exposta em uma loja de vinhos de Los Angeles prende até o final). No acervo do serviço há podcasts com vídeos e conteúdo de altíssima qualidade.

Infelizmente não há dublagem nem legendas em português (pelo menos, até agora não achei), e nem sempre estão disponíveis as legendas em inglês.

 Faltam ainda diversos títulos como Merlove, Mondovino, e, por que não, Reserva Especial do Renato Machado.

O serviço conta com 7 dias de teste gratuito, e pode ser acessado pelo site da Somm TV, ou por apps para celulares e tablets, ou ainda pela Apple TV, que conta com app próprio, por onde em geral eu assisto. O preço é de R$ 24,90 por mês, com desconto equivalente a dois meses para os que optarem pelo plano anual.

 Para os enófilos-cinéfilos vale muito a pena! Ainda mais com uma taça de vinho na mão!

 Cheers! 

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Herdade dos Templários – Visita e Degustação

Embora seja um país territorialmente pequeno, Portugal possui uma grande riqueza de castas autóctones que originam diversos estilos de vinhos, dos espumantes e frisantes, aos vinhos fortificados passando por vinhos tranquilos (“vinhos de mesa”, termo que não deve ser confundido com os vinhos “de mesa” brasileiros elaborados com uvas não viníferas) brancos, rosados e tintos. Produz-se vinho do norte ao sul de Portugal, e sempre há uma surpresa a nos esperar em uma viagem pelo país.

Em janeiro desse ano, visitei a histórica cidade de Tomar, no centro de Portugal, conhecida como a cidade dos cavaleiros Templários. Um local cuja história remonta aos romanos quando era conhecida como Sellium, passando pela ocupação moura (quando passou a se chamar Thamara), até chegar à época dos Templários (a partir de 1147 quando a Ordem dos Templários recebe Tomar do Rei Afonso Henriques) e, posteriormente, a sua sucessora Ordem de Cristo (a partir de 1365). Um dos principais monumentos da cidade é o Convento de Cristo, um conjunto de edificações construído pelos Templários ao longo dos séculos e classificado desde 1983 como patrimônio mundial da UNESCO. Um destino imperdível em Portugal!

Pesquisando sobre as demais atrações de Tomar, claro que não resisti e resolvi verificar os vinhos da região, no caso a região do Tejo, e as vinícolas ali perto.

Acabei por descobrir uma pequena vinícola nos arredores de Tomar, com o sugestivo nome de Herdade dos Templários. Com a curiosidade aguçada, estabeleci contato e agendei uma visita.

No final de uma ensolarada e agradável manhã de sábado, cheguei com meu grupo na Quinta do Cavalinho, onde se situa a Herdade dos Templários, na localidade de Valdonas, nas cercanias de Tomar. Fomos recebidos pela Sra. Andreia Neto, responsável pelo enoturismo da vinícola.


Iniciamos nossa visita com uma caminhada pelos vinhedos seguida de uma visita às instalações da adega, brindados com explicações sobre a história da propriedade, as vinhas e uvas ali plantadas e os vinhos elaborados.

A Herdade dos Templários, fundada em 1989, é uma vinícola familiar, com uma produção pequena, e cujos vinhos podem facilmente ser encontrados em Tomar.

As uvas plantadas na quinta da Herdade dos Templários são Touriga Nacional, Castelão, Aragonez, Syrah, Cabernet Sauvignon, Merlot, Alicante Bouschet, Moscatel Galego Roxo (tintas), Fernão Pires, Chardonnay, Arinto, Riesling e Sauvignon Blanc (brancas). 

Os solos em que as vinhas estão plantadas são argilosos e calcários com presença de xisto.

Após a visita ao vinhedo e às instalações da adega, passamos para a aconchegante sala de provas.

Degustamos alguns dos vinhos da Herdade dos Templários:

1) Herdade dos Templários Vinho Branco DOC do Tejo Tomar 2019: Um assemblage de Arinto, Fernão Pires e Riesling. Um vinho fresco, com frutas tropicais como maracujá e tangerina, bem agradável.

2) Herdade dos Templários Vinho Rosé DOC do Tejo Tomar 2019:elaborado exclusivamente com a Merlot, extremamente elegante, com aromas de frutas vermelhas como cereja, agradou bastante a todos do grupo;

3) Herdade dos Templários Colheita Selecionada DOC do Tejo Tomar 2019: um corte de Touriga Nacional, Alicante Bouschet e Cabernet Sauvignon, com estágio de 6 meses em barricas de carvalho. Extremamente elegante, com notas de cerejas e ameixas negras, alcaçuz e taninos macios. Foi nosso vinho preferido na degustação, com excelente custo-benefício! Um daqueles vinhos que fica na memória.

4) Convento de Tomar Reserva DOC do Tejo Tomar 2016: um original assemblage de Touriga Nacional, Syrah e Cabernet Sauvignon, com estágio de 9 meses em barricas de carvalho. Notas de frutas pretas, como ameixas e mirtilos, café, cacau e pimenta;

5) Sellium Vinho Licoroso: um vinho fortificado, não- safrado elaborado exclusivamente com a Moscatel Roxo. Um belíssimo vinho de sobremesa, com notas de caramelo e de pêssego em compota. Sellium é o antigo nome romano de Tomar.

Além dos vinhos destacados acima, comprei e provei dias depois, ainda em Portugal, o Herdade dos Templários Grande Escolha DOC Tejo Tomar 2018. Um delicioso monovarietal elaborado com a Touriga Nacional, com estágio de 15 meses em barricas de carvalho. Vinho elegante, bem representativo da tipicidade da casta, com notas de violeta, alcaçuz e framboesas.

A Herdade dos Templários produz outros vinhos, como um monovarietal de Merlot. Porém, por sua produção pequena, não estavam disponíveis quando fomos em janeiro.

Tomar por si só já é um destino imperdível em Portugal, porém conjugada com uma visita à Herdade dos Templários tornou ainda mais especial a viagem!

Saúde!



terça-feira, 25 de outubro de 2022

Torre do Esporão – Degustação Vertical

A Herdade do Esporão dispensa apresentações. Reconhecida pela alta qualidade de seus vinhos, é um dos embaixadores do vinho português, em especial os alentejanos.

Como tive a oportunidade de escrever antes, a história da Herdade do Esporão remonta ao século XIII. Porém, é em 1973 que se inicia sua história como vinícola, ano em que José Roquette e Joaquim Bandeira adquiriram a Herdade do Esporão.

Após superar as dificuldades dos primeiros anos, é em 1985 que realiza sua primeira colheita ano em que lançou a marca Esporão.

Nesses quase 50 anos, o grupo Esporão se consolidou e se expandiu. Além de estabelecer no mercado os vinhos da Herdade do Esporão, desenvolveu outros projetos, como a Quintados Murças, no Douro; a Quinta do Ameal, na região demarcada dos Vinhos Verdes; e recentemente uma pequena cervejaria artesanal no Porto.

 Recentemente, por ocasião do lançamento do exclusivo Torre do Esporão 2017, tive a oportunidade de participar de uma degustação vertical desse ícone comandada por João Roquette, CEO da Esporão.

 O Torre do Esporão é um vinho de altíssima gama da Herdade do Esporão, contando até hoje com apenas quatro edições: 2004, 2007, 2011 e o recém-lançado 2017.

No evento foram degustados os vinhos Torre do Esporão das safras 2007, 2011 e 2017 (o 2004 está esgotado), todos vinhos únicos e especiais.

 Iniciamos pelo 2007, ano considerado um dos melhores no Alentejo, ano mais fresco do que o usual. Um assemblage de Aragonez, Alicante Bouschet, Touriga Nacional e Syrah, com estágio de 18 meses em barricas novas seguido de três anos em garrafa. O vinho surpreendeu, mostrando-se muito vivo, com fruta ainda presente, notas de flor de laranjeira, figo, ameixa seca, menta e notas balsâmicas, já com aromas terciários surgindo. Final longo e persistente. Madeira se sobressaindo, até mesmo por conta do estilo em voga na época, com alta extração.

Já o 2011 apresenta um assemblage de Touriga Franca (40%), Alicante Bouschet (30%) e Syrah (30%), com estágio de 18 meses em barricas novas e três anos em garrafa. Apresentou taninos em harmonia com a acidez, com muita concentração e notas de frutas negras, cacau, menta e algumas notas de especiarias com final longo e persistente. Um belíssimo vinho com muitos anos de vida pela frente.

 A estrela da noite, o Torre do Esporão 2017, não decepcionou! Embora com 5 anos de vida, revelou-se muito especial, fruto de um ano tido como um dos melhores no Alentejo.

 O Torre 2017 é uma corte de Aragonez (40%), Touriga Franca (30%), Alicante Bouschet (25%) e Touriga Nacional (5%), com origem em vinhedos diversos, criando um mosaico especial.

A Aragonez é oriunda da Vinha Canto do Zé Cruz plantada em 1980 a 200 metros de altitude, com solos franco-arenosos com presença de granito e argila após 20 metros de profundidade; a Touriga Franca vem da Vinha do Rochedo (plantada em 2005 também a 200 metros de altitude, com solos  de transição entre xisto e granito com textura franco-arenosa) e a Touriga Nacional vem da Vinha do Badeco plantada em 1988 a 200 metros de altitude (solos xistosos), todas parcelas dentro da Herdade do Esporão, em Reguengos de Monsaraz.

Já a Alicante Bouschet é oriunda de dois terroirs distintos. 15% dos 25% de Alicante Bosuchet são oriundos da Vinha das Palmeiras, da vizinha Herdade dos Perdigões, em Reguengos de Monsaraz. Plantada em 1996 a 225 metros de altitude, essa parcela apresenta solos argilosos e profundos com excelente drenagem.

 O restante da Alicante Bouschet (10% de 25% do corte) vem da Vinha do Machuguinho da chamada Propriedade dos Lavradores, em Portalegre, agregando mais frescor ao vinho. Plantada em 2003 a 400 metros de altitude, essa parcela apresenta solos arenosos de origem granítica.

Cada uva é fermentada separadamente, inclusive as parcelas de Alicante Bouschet, com exceção das duas Tourigas que são co-fermentadas. A Alicante Bouschet não passa por pisa.

 O vinho então passa por um estágio de 18 meses em barricas de carvalho francês novas e de segundo uso, de 500 litros, e parte em balseiros de 5000 litros. Após há um estágio de três anos em garrafa.

 Ainda em sua juventude, o Torre do Esporão 2017 foi o melhor da vertical, apresentando frutas pretas com notas de cacau, alcaçuz e menta. Um final longo e bem persistente. Com certeza, ganhará em complexidade e elegância nos próximos dez, quinze anos. Um vinho a ser revisitado!

 Uma novidade, no novo posicionamento dos vinhos da Herdade do Esporão: nos anos em que for lançado o Torre do Esporão não haverá o Private Selection tinto. Este somente será lançado em bons anos, mas que não originem o Torre do Esporão. Nos demais anos, não haverá lançamento de nenhum dos dois vinhos, preservando-se um alto standard de qualidade mínima.

 Para escoltar a vertical do Torre do Esporão, foram servidos ainda os não menos deliciosos Private Selection Branco 2020 e o Tinto 2016.

Uma noite mágica com uma inesquecível e histórica degustação de vinhos especiais! Saúde!


terça-feira, 13 de setembro de 2022

Quinta do Crasto – Visita e Degustação

A Quinta do Crasto, no Douro, dispensa apresentações aos enófilos brasileiros, reconhecida por seus vinhos de altíssima qualidade. Qualidade que se expressa não apenas em seus vinhos de alta gama, mas em todas as linhas de vinho da vinícola.

 A história da Quinta do Crasto remonta ao século XVII, com os primeiros registros de produção de vinho no local e considerada nos anos seguintes como uma das propriedades mais importantes do Douro. Na quinta, junto à casa centenária há um dos marcos pombalinos (marcos usados para delimitar a região do Douro) datado de 1758.

 


No ano de 1918 a propriedade é adquirida por Constantino de Almeida, respeitado produtor de vinho do Porto e brandy. A partir de 1923 o filho de Constantino, Fernando Moreira d’Almeida, assume o negócio continuando com a produção de vinho do Porto.

 

No início da década de 1980 Leonor Roquette, filha de Fernando Moreira d’Almeida, assume juntamente com seu marido Jorge Roquette a gestão Quinta do Crasto e iniciam a expansão da vinícola, juntamente com seus filhos Rita, Miguel e Tomás.

 

Em 1994 começam a elaborar vinhos tranquilos com a DOC Douro. A partir daí remodelam as instalações e plantam novas vinhas, modernizando a Quinta do Crasto.

 

Na década de 2000 adquirem mais duas propriedades, a Quinta da Cabreira (2000) e a Quinta do Querindelo (2006).

 

Ainda na década de 2002, nasce o projeto Roquette & Cazes, um projeto de Jorge Roquette (Quinta do Crasto) com Jean-Michel Cazes (Château Lynch-Bages, em Bordeaux), com o objetivo de criar um grande vinho “com as castas do Douro, um vinho que mostre estrutura e complexidade, que possua  poder e o sol de Portugal conjugados com a elegância de Bordeaux” (Jean-Michel Cazes in https://www.roquettecazes.com/historia/). O projeto hoje conta com dois vinhos: Xisto – Roquette & Cazes e Roquette & Cazes, um primeiro e segundo vinhos da vinícola na melhor tradição bordalesa. As uvas dos vinhos são prevenientes da Quinta da Cabreira (da família Roquette), no Douro Superior, e da Quinta do Meco (da família Cazes), no conselho de Foz Côa.

 

A Quinta do Crasto teve ainda um relevantíssimo papel na promoção dos vinhos “de mesa” (não fortificados) do Douro, mostrando ao mundo que o Douro tinha ainda mais a oferecer além do vinho do Porto. O projeto Douro Boys nasce em 2003 para promover internacionalmente os vinhos tranquilos do Douro. O projeto tinha como integrantes João Ferreira Álvares Ribeiro e Francisco Ferreira (Quinta do Vallado), Cristiano van Zeller (Van Zeller & Co), Dirk van der Niepoort (Niepoort), Francisco “Xito” Olazábal (Quinta do Vale Meão), Miguel e Tomás Roquette (Quinta do Crasto). O projeto dos Douro Boys trouxe, assim, visibilidade aos vinhos tranquilos do Douro.

 


Os vinhos da Quinta do Crasto me foram apresentados muitos anos atrás, em 2006. Naquele ano, participei, no Rio de Janeiro, de uma inesquecível degustação. Na ocasião, provei os vinhos de alta gama da Quinta do Crasto: Vinha Maria Teresa 2003, Vinha da Ponte 2003, Touriga Nacional 2003 e Xisto 2003, todos em sua primeira safra.

 

Essa degustação, além de mudar como até então conhecia os vinhos tranquilos do Douro, tornou-me um ardoroso fã dos vinhos da Quinta do Crasto.

 

Nos anos seguintes, tive a sorte e o privilégio de conhecer os demais vinhos da Quinta do Crasto e revisitar o Xisto 2003 - já com 10 anos - e o Maria Teresa 2003 (leia aqui). Degustei diversas safras de todos os vinhos, sempre com dois pontos destacados: a altíssima qualidade e o respeito aos diversos terroirs explorados pela Quinta do Crasto.

 

Porém, ainda faltava uma coisa: visitar a Quinta do Crasto e provar alguns de seus vinhos in loco. Por razões diversas, nas vezes que havia estado no Douro não tinha conseguido visitar a vinícola. Porém, isso mudou no início desse ano.

 

Em uma ensolarada e fria tarde de janeiro, após percorrer uma estradinha cenográfica e com muitas curvas, avistamos a Quinta do Crasto.

 

Era a primeira viagem internacional “pós-pandemia” e estava ansioso para voltar a visitar regiões vinícolas.

 


Chegamos na Quinta do Crasto por volta de 13h.

 

Primeiro visitamos os vinhedos, com uma detalhada e didática explicação sobre os solos do Douro (e o papel do Xisto), as castas autóctones ali plantadas, vinhedos antigos com uvas misturadas e a história da Quinta do Crasto. Nessa oportunidade, avistamos os célebres vinhedos Maria Teresa e Vinha da Ponte.

 

Na sequência, fomos até os lagares (usados na vinícola apenas para os vinhos “monocastas”, os “monovinhas” e para p Reserva Vinhas Velhas), as instalações com as imponentes cubas personalizadas e encerramos na belíssima sala de barricas da Quinta do Crasto.


Uma curiosidade: a Quinta do Crasto é a pioneira no uso do sistema Oxoline, Barrel Stacking System, pelo qual pode-se armazenar até seis níveis de altura de barricas em toda a extensão lateral interior da cave, de forma a otimizar o espaço de armazenamento.
 

Passamos, então, para a Casa Centenária e na sala de jantar fizemos provas dos vinhos (Crasto Douro Branco 2019, Crasto Douro Tinto 2019, Crasto Superior Douro 2017, Quinta do Crasto Douro Reserva Vinhas Velhas 2018, Quinta do Crasto Porto LBV 2015).
 

 Em seguida almoçamos uma típica e inesquecível refeição portuguesa: uma deliciosa sopa de ervilha; o melhor bacalhau com natas que já provei acompanhado de grelos; e, de sobremesa, uma torta de laranja e queijos variados portugueses. Tudo acompanhado com os vinhos e azeites da Quinta do Crasto.


Finalizamos com uma ida até a piscina de borda infinita com o Douro ao fundo, para terminar a visita com mais uma taça do Quinta do Crasto Douro Reserva Vinhas Velhas 2018.

 

Um sonho realizado e uma visita inesquecível! Saúde!