
A Pinot Noir produz estilos variadíssimos
de vinhos, bastando lembrar das enormes diferenças entre Borgonhas de pequenas
apelações vizinhas. É uma uva, como se diz, difícil, temperamental.
Suspeitando
da origem de tal preferência, sempre pergunto, na sequência, se gostam de Merlot, recebendo uma negativa e um
olhar de desaprovação pela ousadia da pergunta, quase uma blasfêmia.
Nas festas
de fim de ano de 2004, ano de lançamento do filme Sideways, as vendas de vinhos de Pinot Noir, endeusada no referido filme, cresceram 20% nos Estados
Unidos.
Já as
vendas de vinhos feitos com Merlot,
uva hostilizada no filme Sideways pelo
personagem Miles, caíram drasticamente.
Sideways abriu, sem a menor sombra de dúvida,
e esse é seu grande mérito, o universo dos vinhos a diversos consumidores. Entretanto,
muitos, principalmente viticultores, culparam o filme pela derrocada da
popularidade da Merlot e o
crescimento da preferência pela Pinot
Noir.
Nas décadas
de 1980 e 1990, a Merlot era uma das
uvas mais cultivadas na Califórnia, e seus vinhos um dos preferidos no mercado
norte-americano, o primeiro em consumo do mundo, e o quarto em produção.
O resultado
de tamanha popularidade, combinada com a ganância de muitos produtores, foi o
plantio em larga escala, desordenado, sem grande preocupação com o local
adequado, da Merlot, surgindo muitos
vinhos medíocres.
O filme Sideways, porém, não foi, como muitos
pensam, o início da ruína da Merlot,
mas sim o golpe final, um protesto contra o vinhos medíocres a base de Merlot que vinham inundando o mercado na
época.
Basta
lembrar que o personagem Miles tinha como vinho ícone, no livro do qual se
originou o filme Sideways, o Château Petrus (hoje 100% Merlot), e no
filme o vinho ícone era o Château Cheval
Blanc (Merlot e Cabernet Franc, esta última também
hostilizada no filme).
Hoje a Merlot ainda sofre com o “efeito Sideways”, estigmatizada em todo mundo,
à exceção principalmente da França (os franceses não se preocupam com a uva ao
escolher um vinho, mas sim com a origem).
Nas mãos de
produtores competentes e com o conhecimento adequado do terroir, produz, só ou em assemlages,
vinhos incríveis, lendários até.
E não é a
toa que produtores californianos de alta gama, alguns clássicos outros mais
novos, têm buscado elaborar vinhos com a Merlot,
inclusive monovarietais.
As
subregiões da Califórnia em que a Merlot vem
se destacando são Oakville (Napa), Howell Mountain (Napa), Knights Valley (Sonoma), todas AVAs (American
Viticultural Aereas) dentre outras. Produtores como Shafer, Beringer, Pride Mountain Vineyards, Duckhorn produzem
vinhos incríveis só com a Merlot.
Não podemos
esquecer de mencionar que na década de 1980 a Merlot ajudou a colocar o Estado de Washington no mapa, que até então era tido como um local muito frio para
plantação de vinhedos.
Por fim,
sugiro assistir no You Tube um dos
melhores vídeos sobre vinhos que assisti ultimamente, com tiradas hilárias e geniais: A Brief History of Merlot
(http://www.youtube.com/watch?v=6efO9ReiKQM).
Cheers! Sláinte!
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