
Muitas pessoas parecem ficar intimidadas com a
figura do sommelier (ou escanção,
como preferem os portugueses), aquele sujeito de terno que se aproxima da sua
mesa, às vezes com taças, não raro com um pin na lapela indicativo de sua
profissão, ou com um taste du vin ou tastevin pendurado ao pescoço, e
pergunta se o cliente necessita de ajuda para escolher um vinho. Por vezes, nos
entregam um imenso livro com capa de couro (a carta de vinhos) e ficam ali parados,
à espera de uma reação nossa, ou quiçá um pedido de ajuda.
Muito ficam quase catatônicos, paralisados de
medo. Sentem que podem passar vergonha ao revelar seus gostos pessoais e
preferências, parecerem ignorantes, ou ainda indicar quanto pretendem gastar.

O sommelier não está ali para julgar, mas
para ajudar. E ele, além de conhecimento técnico, conhece na prática os vinhos
da carta harmonizados com os pratos do cardápio, ou seja, conhecendo as
sutilezas das receitas, é quem melhor pode indicar um vinho para harmonizar com
os pratos e que atenda à expectativa e ao gosto do cliente.
Por isso sempre busco o aconselhamento do sommelier, e raramente me decepciono.

Na verdade, diria que as decepções que tenho
ocorrem mais pelo mau atendimento, pela falta de treinamento adequado do profissional,
ou até mesmo ganância, mas isso é objeto de um outro post.
Como
falar com o Sommelier? E não me refiro a termos técnicos ou a
enoexibicionismos, típicos dos enochatos, essa praga contemporânea, mas sim a
dar as corretas indicações de suas preferências para que o Sommelier acerte (lembre-se, ele não tem bola de cristal...).
Eis aqui algumas dicas:
1a) Gosto e sinceridade: fale dos
seus gostos pessoais, ou seja, tente descrever que tipo de vinho você gosta de
beber, sem se preocupar com termos técnicos (os médicos não esperam que seus
pacientes, leigos em sua esmagadora maioria, utilizem termos técnicos). Se
tiver dificuldades em descrever, fale até mesmo da uva que mais lhe agrada ou
do vinho que você bebe em casa;
2a) Objetividade e humildade: Não
seja soberbo, o sommelier não está
interessado nos grandes vinhos que você têm na sua adega, nas viagens a
vinícolas que fez, nas degustações que participou e coisas assim. Claro, é
importante dar detalhes do seu gosto, mas seja objetivo e não chato;
3a) A questão do preço: Com certeza,
o grande ponto de tensão na escolha de um vinho, em especial em um país como o
nosso em que, infelizmente, se elitizou o vinho como se fosse um produto de
luxo e não apenas parte da dieta alimentar. Mais uma vez, seja sincero e
objetivo, indique ao sommelier alguns
vinhos na carta, indagando sobre eles. Um bom sommelier saberá interpretar o valor que você pretende gastar. Se
possível por conta da situação, seja mais direto, e fale a faixa de preço.
Sláinte!
6 comentários:
Excelente Carlos! Parabéns pelo post, não só pelo conteúdo em si, mas pela escrita saborosa de ler e... Imaginar!
Abraços,
Carlos,
Coincidentemente, ontem, Matt Kramer postou a matéria "How not to serve wine" em sua coluna Drinking Out Loud da WineSpectator.com , onde critica o comportamento do sommelier de um restaurante na cidade do México,que podemos facilmente transportar a situação para qualquer grande centro brasileiro. É um ensinamento para aqueles que atuam do lado do balcão. Para leitura acesse:
http://www.winespectator.com/webfeature/show/id/48683
Meus parabéns e forte abraço.
Rafael Mauaccad
Grande Rodolfo! Obrigado pelo comentário!
Oi, Rafael! Vou ler o artigo. Adoro o Matt Kramer, um dos críticos mais lúcidos que conheço.
Coincidentemente, o post seguinte que estou preparando é se intitula "Os Pecados do Sommelier", a partir de algumas situações vividas por mim e por amigos.
Obrigado pelo comentário!
Fala CB, grande post. Parabéns!
Na espera do próximo, acreditando que vc contará sobre a degustação de top chilenos que fizemos.
Grande abraço,
Cuesta
Ótimo! ! Perfeito! !! É isso aí! Sem mais, nem menos! !
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