
Localizado
a três horas de San Francisco e a três horas de Los Angeles, Paso Robles, uma
AVA (American Viticultural Area) situada no condado de San Luis Obispo e
abrangendo não apenas a cidade homônima mas também outras localidades próximas,
embora não seja um dos Wine Countries mais famosos e badalados da Califórnia,
possui vinícolas clássicas e famosas, como Justin, Turley e J. Lohr, entre
outras, tendo muito a oferecer. Mesmo assim, a estrutura de enoturismo da
região é primorosa e muito bem organizada (veja mais abaixo em "dicas
gerais"), além de a cidade contar com uma cena gastronômica incrível e com
excelentes opções de hospedagem, sem preços inflacionados como os de Napa
Valley. Um dos melhores hotéis em que ficamos em toda a viagem - e curiosamente
o mais barato de todos - era em Paso, o La Bellasera Hotel & Suites.
Um dos
destaques do crescente enoturismo da região, e que nunca havia visto em outro
lugar do mundo, é a The Wine Line (HopOnTheWineLine.com), um serviço coletivo
de van com três linhas (West Side, East Side e Downtown), que passa a cada 40
minutos em vinícolas indicadas em seus itinerários, deixando e buscando
passageiros.
E com o
primeiro lugar do vinho Saxum James Berry Vineyard Paso Robles 2007 no Top 100
Wine of 2010 da revista Wine Spectator, Paso ganhou notoriedade.
Saímos cedo
de Healdsburg, em Sonoma, e rumamos para Paso Robles. Optamos por um caminho
mais longo e panorâmico, pela Highway 1, a qual acessamos a partir de Santa
Cruz. De lá seguimos para Monterey e depois passamos pela Big Sur, uma cadeia
de montanhas que divide o norte e o sul da Califórnia, com vistas
deslumbrantes. Passamos o dia viajando, parando para tirar fotos e almoçar.
Chegamos de noitinha no hotel e jantamos em seu excelente restaurante, o
Enoteca, um suculento rib eye com uma taça de Wild Horse 2007 Cabernet
Sauvignon, nosso primeiro vinho de Paso Robles.
1º dia
Dividimos
as visitas às vinícolas em dois dias, um para a parte oeste e outro para a
região leste de Paso Robles.
Paso
apresenta uma paisagem mais selvagem do que a de Napa Valley em geral (Sonoma
varia de acordo com a parte em que você está), principalmente na parte oeste.
Em alguns lugares, sequer havia sinal de celular, e deve-se dirigir com
cuidado, por conta dos animais que costumam cruzar a estrada.
Iniciamos
pela Justin Vineyards & Winery, uma das mais prestigiosas vinícolas de Paso
Robles, com vinhos incríveis e bem elaborados. Degustamos um refrescante 2010
Sauvignon Blanc Paso Robles, sem passagem em barrica, seguido de um 2009
Chardonnay Reserve Paso Robles, com passagem em madeira e muito equilibrado.
Passamos, então, aos tintos: 2009 Cabernet Sauvignon Paso Robles, 2009 Syrah
Paso Robles, e os dois flagship wines da vinícola, o 2008 Justification Paso
Robles (65% Cabernet Franc e 35% Merlot, sem filtragem) e o 2008 Isosceles Paso
Robles (78% Cabernet Sauvignon, 13% Cabernet Franc, 8% Merlot e 1% Petit
Verdot, sem filtragem). Encerramos com o Obtuse, um vinho fortificado.

Em resumo,
são três linhas de vinhos, praticamente todas com uvas típicas do Rhône (o
vinho branco elaborado com a italiana Vermentino é uma das exceções), com
clones, em sua maioria, trazidos da propriedade da família Perrin no sul do
Rhône: 1) Espirit de Beaucastel (o branco baseado na Roussanne, e o tinto com a
predominância da Mourvèdre), no melhor estilo dos vinhos Châteauneuf-du-Pape;
2) Côtes de Tablas (o branco a base de Viognier e o tinto com Grenache); 3) os
Single Varietal e os de edição limitada.
Vale
observar que, embora Paso Robles produza excelentes vinhos com a Cabernet
Sauvignon e a Zinfandel, há uma grande tendência a se apostar em vinhos
elaborados com a Syrah, Mourvèdre, Grenache, Viognier, Roussanne, e outras uvas
do Rhône. O movimento dos Rhône Rangers ganhou ainda mais força com a escolha
do Saxum James Berry Vineyard Paso Robles 2007 como vinho número 1 do Top 100
Wine of 2010 da revista Wine Spectator. E só para ilustrar, o mais famoso
festival de vinhos da região sugestivamente se chama Hospice du Rhône.
Da linha
Espirit de Beaucastel degustamos o branco 2008, e os tintos 2006 e 2008, todos
incríveis. Degustamos ainda um belo rose, que lembrava muito um Tavel, e ainda
um varietal da italiana Vermentino, e dois Vin de Paille, um branco e um tinto.
De lá
seguimos para a Adelaida Cellars, especializada em vinhos com Syrah, com
Grenache e com outras uvas do Rhône, embora também produza um frutado Pinot
Noir e vinhos com a Zinfandel e com a Cabernet Sauvignon. Porém, foram os
vinhos varietais de Syrah e de Grenache, de vinhedos específicos, que mais nos
impressionaram.
Terminamos
o dia explorando Downtown Paso, que conta com diversas Tasting Rooms, algumas
de vinícolas específicas, bem como lojinhas interessantes, inclusive uma só de
azeites, a We Olive, em que o cliente pode degustar antes de decidir qual
comprar. A variedade é imensa.
Degustamos
ali em Downtown Paso os vinhos da Ortman Family Wines, uma pequena vinícola
familiar, com vinhos de bom custo benefício não apenas de Paso, mas também do
condado vizinho de San Luis Obispo. E finalizamos o dia com um jantar no Il
Cortile, um pequeno e excelente restaurante italiano.
2º dia
Iniciamos o
dia pela parte leste de Paso Robles. Nossa primeira parada foi na J. Lohr
Vineyards & Wines, que possui vinhedos não apenas em Paso Robles, mas
também em Monterey e Napa Valley, contando com uma Tasting Room também em San
Jose. A vinícola se orgulha de sua sustentabilidade e de suas práticas
ecologicamente corretas, contando com um incrível sistema de energia solar, o
maior da indústria de vinhos norte-americana.

Na
sequência, visitamos a Eberle Winery, também bem tradicional na região. Lá além
de provar alguns vinhos de diversas cepas, inclusive um Barbera, ainda pudemos
fazer um tour pelas caves subterrâneas da vinícola, e sem qualquer cobrança.
Dentre os rótulos degustados, os melhores, sem dúvida, eram o Cabernet Sauvigon
Estate Bottled 2007 e o Syrah Steinbeck Vineyard 2008, ambos de Paso Robles,
sendo o último um dos atuais destaques da vinícola.

Ainda
visitamos mais duas vinícolas, já prestes a encerrar o dia, e escolhidas ao
acaso.
A primeira
foi a Midnight Cellars, uma vinícola familiar, com vinhos de excelente
custo-benefício, na qual o que mais me impressionou foi um branco bem complexo,
o Paso Robles Autora Reserve 2008, blend tipicamente do sul do Rhone, com
predominância da Viognier e da Roussanne.
A segunda,
ali bem pertinho, e que encerrou nosso dia, foi a Eagle Castle Winery, um
castelo de arquitetura medieval, com ponte levadiça e armaduras (perfeito para
um menino de três anos). Embora a nossa impressão inicial era de que seria uma
espécie de programa meio furado em termos de vinho, acabamos surpreendidos.
Havia uma variedade imensa de rótulos, o que sempre vemos com certa
desconfiança, por assim dizer. No entanto, os vinhos eram muito bem feitos, e
bem gastronômicos. E mais uma vez nos surpreendemos com um Viognier, aromático,
em muito lembrando um Condrieu, e um delicioso vinho de sobremesa,
colheita tardia, com a Viognier.
Dicas
gerais
(inclusive
de onde comprar vinhos):
I) Planejando
a viagem:
Para melhor
se planejar e não perder tempo em um só lugar, busque montar um roteiro básico
antes de viajar, ainda que possa sofrer modificações. Não deixe de:
1) comprar
aqui do Brasil, via Amazon.com, o Napa-Sonoma Wine Country Map and Guide, um
mapa com diversas vinícolas indicadas, com endereços, telefones, horários e
outras informações;
2) pedir no
site www.pasowine.com o guia gratuito em forma de brochura de Paso Robles, eles
enviam pelo correio para o Brasil;
3) fazer
uma lista de vinícolas que gostaria de visitar, agrupando-as por região e subregião,
ganhando tempo nos deslocamentos;
4) RESERVAR
do Brasil, se possível, tours, restaurantes, visitas a vinícolas; planejar é
imprescindível;
5) se já
tiver seu próprio aparelho GPS, marcar no computador por meio do Google Maps
(versão norte-americana, a brasileira não tem essa funcionalidade. No YouTube
há vídeos explicativos da Garmin, dentre outros, mostrando o passo-a-passo)
todos os pontos de interesse (vinícolas, hotéis, restaurantes, lojas de vinho,
rotas etc...) e passar para o dispositivo GPS via USB (acreditem, poupa tempo).
II) BYOB (Bring
your own bottle):
Diversos
restaurantes de Napa, Sonoma e Paso Robles, dos mais simples aos mais sofisticados,
aceitam que o cliente traga seu próprio vinho, e não raro, quando se trata de
um vinho local, isentam os consumidores da taxa de rolha. Assim, você pode
comprar um vinho nas suas visitas às vinícolas durante o dia e degustá-lo no
jantar.
Deve-se conferir
a política de cada restaurante.
III) Compra de vinhos nas vinícolas:
Por
incrível que pareça, salvo raríssimos casos (e.g. um vinho que só é vendido na
vinícola; um vinho raro ou de produção minúscula; isenção da taxa de degustação
com a compra) ou se você integra um dos wine clubs das vinícolas (impossível
para quem não reside nos Estados Unidos, e mesmo assim dependendo do Estado),
não vale a pena comprar os vinhos diretamente nos produtores, como
diferentemente ocorre em muitos outros países. A razão é simples, acordos
comerciais com distribuidores nacionais.
Apenas um
exemplo, o Insignia 2007, vinho ícone da Joseph Phelps Vineyards, era, à época
da visita, vendido na vinícola por US$ 225.00, e na Wine House, megastore em
Los Angeles, por US$ 149.90.
Lojas de
vinhos e Tasting Rooms em San Francisco
Uma das
grandes febres na Califórnia, são as Tastings Rooms nas cidades de médio e
grande porte. Em San Francisco existem diversas, que também vendem as garrafas,
em geral de produtores menores (e não menos interessantes): Winery Collective,
Wines of California, Buena Vista Carneros Winery Tasting Room etc...
Na minha
humilde opinião, embora seja válido visitar algumas Tasting Rooms,
especialmente se você quer tomar um vinhozinho sem compromisso no final da
tarde, para compras, a melhor opção é a K&L San Francisco (www.klwines.com
- com mais duas filiais, uma em Los Angeles). Embora o endereço passe longe do
circuito turístico Union Square - Fisherman`s Wharf, uma rápida corrida de táxi
resolve. Sempre entro em uma loja dessas tendo noção do que quero comprar, após
prévia pesquisa no site da loja, senão enlouqueço com a variedade e os preços
incríveis! E mesmo assim, ainda surgem tentações!
Lojas de
vinhos em Los Angeles e cidades vizinhas
Los Angeles
possui diversas lojas de vinhos e é o paraíso para qualquer enófilo.

IV) Como
despachar seus vinhos para o Brasil:
Uma das
angústias de qualquer brasileiro apaixonado por vinhos é como trazer na bagagem
aqueles vinhos maravilhosos (não só os norte-americanos, mas italianos,
franceses etc...) que, ou não são comercializados no Brasil, ou aqui são
vendidos a preços no mínimo três vezes mais caros (um Chateau Montelena
Chardonnay, da safra corrente, custa US$ 45.00 nas lojas americanas e no Brasil
a bagatela de R$ 350,00).
Uma solução
simples e barata é comprar nas vinícolas ou nas lojas da UPS caixas de isopor e
papelão para despachar vinhos. As caixas de seis ou doze garrafas possuem
compartimentos individuais de isopor para cada uma das garrafas e resistem sem
problemas à viagem de avião. Comprei por US$ 8.00 uma dessas caixas em uma
vinícola.
Outras opções para transportes de vinhos você encontra em nosso post anterior Enodicas: Transportando Vinhos em Viagens
Cheers!
Outras opções para transportes de vinhos você encontra em nosso post anterior Enodicas: Transportando Vinhos em Viagens
Cheers!
4 comentários:
Adorei o post e todas as dicas. Estou organizando uma viagem para a California em julho e esse post veio em boa hora, parabens!
Grande abraço,
Alessandra Esteves
www.damadovinho.com.br
Oi, Alessandra! Tudo bem?
Acompanho seu blog também e gosto muito do seu trabalho.
Espero que tenha visto os posts anteriores sobre Napa e Sonoma. boa viagem! Abs, Carlos
Excelente trabalho este realizado por você.
Para quando uma visita ao Porto?
Visitar a cidade e as Caves do Vinho do Porto?
Parabéns.
www.wivini.com
Obrigado, Sousa!
Espero voltar a Portugal em breve, faz anos que não vou. E sou um fã de Portos e dos vinhos portugueses em geral. Abs
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