
De
qualquer forma, com o passar dos anos, ou seja, a depender da sua idade, achar
um bom vinho pode ser tarefa árdua.
Depois
de anos de procura, ano passado encontrei um vinho da “minha safra”, 1974, e
que prometia ainda estar em boas condições, malgrado tal ano não tenha sido bom
em Bordeaux. O vinho era um Château Léoville Poyferré, e que me
acabou por ser presenteado por minha mãe.
O
Château Léoville Poyferré, que produz
um primeiro vinho homônimo, surge na classificação de 1855 para o Médoc como um Deuxième Grand Cru Classé.
Léoville Poyferré integrava
originariamente o Château Leóville, uma
das maiores propriedades do Médoc até
a revolução francesa. Após esta, acabou por ser dividido e vendido,
originando três propriedades distintas: Léoville
Poyferré, Léoville-Las Cases e Léoville-Barton
(todas de excelente reputação).
A
família Cuvelier, também proprietária
do Château Le Crock em Bordeaux e da vinícola Cuvelier Los Andes (integrante do
projeto capitaneado por Michel Roland denominado
de Clos de los Siete) em Mendoza,
Argentina, adquiriu o Château Léoville
Poyferré em 1920. Contudo, somente no final da década de 1970 tenha a
família passado a ter controle total da propriedade e a administrá-la diretamente.
O
Château Léoville Poyferré é apontado
por alguns especialistas como, dos três Léoville,
o que melhor exprime o terroir de
Saint Julien, menos potente e tânico que seus “irmãos” e mais “aveludado”.
Uma
curiosidade sobre essa vinícola reside no fato do Château (o prédio) retratado no rótulo não existir (ainda). O Château Léoville Poyferré divide um
mesmo imóvel com o Château Léoville-Las
Cases. No entanto, o Château desenhado
no rótulo e imaginado por um dos membros da família Cuvelier está para ser construído ali perto.
Assim, no dia do meu último aniversário decidi abrir o Château Léoville Poyferré da minha safra.

Preparei-me
para sacar a rolha da garrafa, sempre com aquela sensação estranha que me toma
ao beber um vinho tão aguardado, um misto de adrenalina, curiosidade e
expectativa acerca do vinho (a pior coisa é quando o vinho decepciona, não
emociona, e, infelizmente, isso pode ocorrer). Nesse caso, havia um elemento de
tensão a mais: teria o vinho sobrevivido a quatro décadas? O jeito era decantar
e provar...
E
assim foi feito, passei vagarosamente o vinho para um decanter, e esperei uns dez minutos (até porque vinhos tão
envelhecidos não ganham muito com a oxigenação prolongada, muito ao contrário).
E o vinho estava bom, havia sobrevivido; maduro seria a palavra exata.
E
aqui faço um parêntese. Como já escrevi antes, analisar um vinho não se limita
- pelo menos não deveria - à descrição fria e racional do conteúdo da taça
(embora a análise técnica tenha seu valor, desde que no contexto adequado,
senão vira chatice e esnobismo). A degustação de um vinho deve, sobretudo, se
centrar nas emoções provocadas. E com certeza os vinhos mudam conforme a
ocasião e com quem os bebemos.
E
assim o Château Léoville Poyferré 1974
não decepcionou. Diferente do que degusto usualmente, já que não bebo com
regularidade vinhos com mais de 20 anos (e confesso, sem medo, que não sou um
fã de vinhos tão evoluídos, gostando de vinhos em seu auge, qualquer que seja a
idade), porém excelente.
A
cor obviamente era mais para telha, perdendo o rubi. A fruta já não era
onipresente em primeiro plano, mas estava lá, acanhada. Os aromas terciários,
em especial terra molhada, couro, eram bem mais presentes.
No
entanto, um fato, que não esperava, me chamou a atenção. Após cerca de 30 a 40
minutos de aberta a garrafa, o vinho se abriu mais, e com a comida cresceu e
muito.
Em
suma, esse foi o vinho da minha safra. Agora, o que estou fazendo é começar a
comprar vinhos das safras dos meus filhos para um dia lhes proporcionar o mesmo
prazer.
Santé!
Um comentário:
Muito legal! Vamos ver se descobrimos outra para tomarmos juntos!
Abraços,
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