No início de 2015 fui apresentado a uma nova vinícola, Guaspari, que produzia, na época, três
vinhos, um Sauvignon Blanc e dois Syrahs de vinhedos diversos, todos de
alta qualidade.
Na época degustei o Guaspari
Sauvignon Blanc 2012 (ainda com um estilo frutado, e completamente diverso na safra
seguinte de 2013, a atual no mercado), o Guaspari
Syrah Vista do Chá 2011 e o Guaspari
Vista da Serra 2011. Recordo-me o quanto fiquei impressionado com os vinhos,
em especial os tintos.
No entanto, o que mais me chamou a atenção não foi a alta qualidade dos
vinhos, nem o fato da vinícola ser localizada no Estado de São Paulo. Supreendeu-me o fato que a Guaspari não era apenas mais uma
vinícola com equipamentos e equipe de primeira. Era muito mais: representava o
nascimento de toda uma região vinícola,.Espirito Santo do Pinhal, em São Paulo,
perto da divisa com Minas Gerais e aos pés da Serra da Mantiqueira.
O projeto teve início em 2001, quando a família Brito (Guaspari é o outro sobrenome da
matriarca da família) adquiriu duas fazendas de café em Espírito Santo do
Pinhal atraída pela paisagem da região que muito lembra os campos da Toscana.
Buscando mudas de videiras para fins ornamentais, a família conheceu em
2002 o pesquisador Murillo de Albuquerque
Regina, que lhes forneceu as primeiras mudas, e, verificando o solo
granítico muito similar ao do Rhône
em grande parte da propriedade, surgiu a ideia de montar uma vinícola nos cerca
de 800 hectares das duas fazendas.
Em 2006 foram plantadas as primeiras videiras e a vinícola Guaspari iniciou estudos para
identificar os micro terroirs locais
e as melhores castas para cada um deles.
A partir daí a Guaspari construiu
suas instalações (2008) e montou uma equipe de primeira linha: Paulo Macedo, português, agrônomo sênior
e que trabalhou durante os últimos 12 anos no grupo Symington; Cristian Sepúlveda,
chileno, enólogo residente com passagens por diversas vinícolas como Concha y Toro, Santa Rita (Chile), Kendall Jackson (Califórnia), Château Mas Neuf (Vale do Rhône), dentre outras;
e, at last but not least, Gustavo Gonzalez, californiano
proprietário da vinícola Mira (Carneros, Napa, Califórnia), enólogo
sênior e que trabalhou durante 17 anos na Robert
Mondavi Winery e também na Tenuta
dell’Ornellaia, na Toscana.
Um ponto interessante no projeto reside na transferência da safra para o
inverno por meio da técnica da dupla poda (poda-se uma segunda vez em dezembro
as vinhas adiando a floração), evitando-se a colheita entre o final de janeiro
e o início de março, quando o clima é muito quente na região, tanto de dia
quanto à noite. Com isso a colheita começa - dependendo da variedade - no final
de maio se estendendo até julho. Nessa época, os dias são quentes, e as noites
frias, com boa amplitude térmica, insolação e ausência de chuvas. Condições
muito similares às de grandes zonas vinícolas.
A Guaspari conta hoje com
cerca de 50 hectares de vinhedos e mantém atualmente vinhas com as seguintes
variedades: Syrah, Pinot Noir, Cabernet
Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot, Sauvignon Blanc, Chardonnay , Viognier,
Petit Verdot, e Muscat. Há ainda
oliveiras, macadâmias e, claro, cafezais.
Cada vinhedo é chamado de “Vista”(Vista
da Serra, Vista do Chá, Vista do Bosque, Vista da Mata, Vista do Vale, Vista do
Lago etc...), cada qual com sua cepa predominante, de acordo com as
características do terroir, variando as
localizações entre 700 e 1300 metros de altitude.
Hoje além dos Guaspari Sauvignon
Blanc (atualmente na safra 2013) e Syrahs
Vista da Serra e Vista do Chá (ambos
na safra 2014), a vinícola comercializa os vinhos de entrada Vale da Pedra Tinto e Vale da Pedra Branco, elaborados
respectivamente com a Syrah e com a Sauvignon Blanc, ambos da safra 2015. Há
ainda o Guaspari Rosé, elaborado com
a Syrah (safra 2015).
Agora no final de novembro a vinícola lançará o Guaspari Viognier Vale do Bosque 2015, um belíssimo vinho, no
melhor estilo dos Condrieu, e que
tivemos a oportunidade de degustar em primeira mão em setembro passado junto
com os Guaspari Syrahs Vista da Serra e
Vista do Chá safra 2014.
Há ainda nos planos da vinícola o possível lançamento em 2017 de um Chardonnay e de um tinto ultra premium com assemblage de Cabernet Franc
e Cabernet Sauvignon (talvez até dois
tintos, cada um com uma das Cabernet prevalecendo,
como me contou o enólogo Gustavo Gonzalez).
Já tendo tido a oportunidade de degustar as safras 2011, 2012, 2013 e
2014 do Guaspari Vista do Chá, e as
safras 2011, 2013 e 2014 do Guaspari
Vista do Serra, além dos demais vinhos já lançados da vinícola, inclusive
em idade distintas, não receio em afirmar que a qualidade vem se mantendo safra
a safra, com vinhos de excelente potencial para guarda (os Vistas); trata-se de um novo capítulo do vinho brasileiro.
Se você ainda tinha dúvidas sobre o potencial do vinho brasileiro, é
hora de repensar isso... Saúde!
Fotos cedidas pela Guaspari, à exceção da sétima e da última.
Um comentário:
Carlos, parabéns por mais um post muito interessante! Já havia ouvido falar da vinícola, mas ainda não tive a oportunidade de experimentar suas produções, e agora fiquei com ainda mais vontade! Abraços,
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