
Um dos grande trunfos dos vinhos portugueses reside nas suas diversas castas autóctones, que os tornam únicos em todo o mundo.
Em um país cerca de duas vezes o tamanho do Estado do Rio de
Janeiro, ou do tamanho de Santa Catarina, é realmente incrível a miríade de
estilos de vinhos produzidos, bem como a quantidade de produtores existentes.
Também surpreende o grande número de regiões vitivinícolas, das
maiores e mais famosas como Douro e Alentejo, até as menos conhecidas e que nos
reservam verdadeiros tesouros.
Colares, uma das menores regiões vitivinícolas de Portugal, é
denominação de origem protegida desde 1908, e foi a segunda região vitivinícola
demarcada do país. Situa-se numa zona de dunas, muito próxima ao mar, no
Concelho de Sintra, perto da serra, estendendo-se do Cabo da Roca a Magoito.
Os vinhedos dessa pequena região (cerca de 12 a 15 hectares)
estão situados em terrenos cobertos de areia próximos ao mar.


Os vinhos tintos são elaborados com um mínimo de 80% da casta Ramisco, só encontrada em Colares,
complementados por outras cepas como Molar
e Castelão.
Já os brancos são elaborados com a Malvasia de Colares, também com um mínimo de 80%.
No entanto, os produtores praticamente produzem vinhos
monovarietais ou com percentuais mínimos de 95% com a Ramisco ou com a Malvasia de
Colares.

Justamente por estarem plantados em terreno arenoso, os vinhedos
de Colares não foram atingidos e destruídos pela filoxera em meados do Século XIX,
quando a praga se alastrou pela Europa e dizimou inúmeros vinhedos. Foi
justamente nessa época que os vinhos de Colares ganharam notoriedade, chegando a haver em 1908 dois mil hectares
de vinhedos plantados na região.
Em recente viagem à Portugal visitamos a Adega Viúva Gomes, em Almoçageme,
que faz parte da freguesia de Colares, e bem pertinho de Sintra.
Recepcionados pelo proprietário, o simpático José Baeta,
conhecemos a história dessa vinícola que data de 1808, aprendemos sobre a
produção de vinhos de Colares, e,
claro, tivemos a oportunidade de degustar alguns vinhos da Adega Viúva Gomes, que além dos Colares tinto e brancos também
elabora dois outros vinhos, um tinto e um branco, com denominação regional de
Lisboa..
Começamos pelos brancos. Primeiro, degustamos um Patrão Diogo Branco – Regional de Lisboa
2015, elaborado com Fernão Pires,
Arinto e Seara Nova, de vinhedos
plantados em solo argiloso, o chamado “chão rijo”.
Na sequencia, provamos o Viúva
Gomes Branco – Colares DOC 2014, elaborado com a Malvasia de Colares, com notas minerais como sílex e também maresia, com notas salinas e acidez elevada na boca.
Passando aos tintos, iniciamos com o Patrão Diogo Tinto – Regional de Lisboa 2015, também plantado em
“chão rijo” e elaborado com as castas Aragonez
e Castelão.


De se destacar que a Adega
Viúva Gomes é aberta ao enoturismo, bastando enviar um e-mail ou telefonar
para agendar a visita.
Infelizmente, esse valioso patrimônio viticultura mundial que é Colares está ameaçado. Por conta da
forte expansão urbanística na área e a valorização dos imóveis perto do mar,
restam muito poucos hectares de vinhedos, nitidamente em ameaça de extinção.
A nós, apaixonados por vinhos, só nos resta torcer para que as autoridades locais adotem providências para estimular a manutenção e até mesmo a expansão dos vinhedos de Colares, protegendo esse patrimônio cultural.
Colares venceu a batalha contra a nefasta filoxera no século XIX, esperemos que esse intrépida região consiga
vencer nesse século a batalha contra a especulação imobiliária.
Um brinde à Colares!
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