Paso Robles é uma das minhas regiões vinícolas preferidas na Califórnia.
Desde a nossa primeira visita em 2011 (leia aqui), quando ainda não era um wine country tão célebre como Napa e Sonoma, Paso Robles - ou apenas Paso
como preferem os locais - se tornou bem badalada, inclusive tendo sido
eleita em 2013, pela publicação norte-americana Wine Enthusiast, a região produtora de vinhos daquele ano (Wine Region
of the Year).
Atualmente,
é uma das regiões vinícolas mais prestigiadas dos Estados Unidos. E apesar do sucesso
e do estruturado enoturismo, Paso mantém
seu charme com seu estilo wild west,
com preços (ainda) razoáveis quando comparado com Napa
Valley.
Paso se localiza no condado de San Luiz Obispo, na chamada Central Coast da Califórnia, no meio do
caminho entre San Francisco e Los Angeles, abrangendo a cidade
homônima e diversas localidades próximas.
A região se
estende cerca de 42 milhas do oeste para o leste, e 32 milhas do norte ao sul,
e até 2014 era a maior AVA californiana sem subdivisões, apresentando diversos
tipos de solos e microclimas variados.
Paso Robles se notabilizou por diversos estilos de vinhos, desde a pioneira Zinfandel
e seus blends, até a Syrah, a Grenache e demais uvas do Rhône
sozinhas ou em assemblages (é um dos lares dos chamados Rhone Rangers), passando
pela Cabernet Sauvignon e os cortes
bordaleses, com espaço para experimentações com Tempranillo, Touriga Nacional, cepas italianas como a Barbera (sobre os Cal-Italians Wines leia aqui), e blends inovativos (enquanto escrevia
este post degustava um vinho 55% Syrah, 40% Zinfandel e 5% Viognier,
o Zenaida Zephyr 2014, uma releitura
local do Côte-Rôtie acrescida da Zinfandel).
Em 2014 a AVA
(American Viticultural Area) de Paso Robles foi subdividida em 11 AVAs,
mantendo-se, como ocorre com Napa por
exemplo, uma AVA maior, no caso Paso Robles, de forma a
realçar para o apreciador de vinhos as características do terroir de cada localidade da região.
As novas
AVAs agrupam-se em três subregiões:
1) A parte
oeste montanhosa, a cerca de 5 milhas do Pacífico (Western Hilly Areas), com solos calcários e em com vinhedos até
2400 pés do nível do mar, e contando com brisas marítimas moderadas, e na qual
se inserem as AVAs Adelaida, Paso Robles
Willow Creek, Templeton Gap e, um pouco mais ao sul, após a cidade de Atascadero, Santa Margarita Ranch (com
solos aluviais). Além dos potentes Zinfandels, a área se destacam também
pelos vinhos elaborados com varietais do Rhône,
com destaque para a Syrah e para a Grenache. Há ainda excelentes vinhos
elaborados com a Petite Sirah (leia mais sobre esta enigmática uva aqui) de
vinhedos antigos;
2) A parte
dos vales internos (Inland Valleys),
já à leste da Highway 101, com as
AVAs San Miguel, Paso Robles Estrella,
Paso Robles Geneseo, e El Pomar,
com vinhedos plantados entre 700 e 1600 pés do nível do mar, e com solos
argilosos e aluviais. Aqui, até mesmo por não haver tanta influência da brisa
marítima, se destacam a Cabernet
Sauvignon, e os vinhos com cortes bordaleses, além da Zinfandel.
3) Também
ao leste da Highway 101, a Inland Hilly Area, com vinhedos em
colinas, e com clima mais quente, também se destacando a Zinfandel e a Cabernet
Sauvignon, e com futuro promissor para cepas espanholas e portuguesas. Aqui
há menos chuva que nas demais áreas e a inversão térmica é maior. As AVAs aqui
são San Juan, Creston e Highlands.

Vale
lembrar que a vizinhaYork Mountain, na
parte oeste da região, é uma AVA independente,
não se inserindo dentre as sub-AVAs de Paso
Robles.
Alguns
poderiam pensar qual a razão de se criar 11 AVAs inseridas dentro de uma AVA, Paso Robles, já com nome reconhecido no
mercado de vinhos. Como já tivemos oportunidade de escrever antes, as AVAs, não
obstante algumas críticas recebidas quanto à sua proliferação no sentido
de que “confundiriam o consumidor”, mostram-se imprescindíveis para a construção de uma noção de terroir na Califórnia e em outras regiões produtoras
norte-americanas, e, mutatis mutandi,
no mundo todo. São imprescindíveis para a construção de uma identidade
cultural-vinícola. Leia mais sobre a noção de AVAs e terroir aqui.
Pelo
sistema atual, os produtores não são obrigados a ostentar o nome da sub-AVA,
podendo manter apenas a AVA Paso Robles
(ou ainda colocar Paso Robles e o
nome específico da sub-AVA, como “Paso
Robles – Templeton Gap District) e apenas com o passar do tempo poderemos
perceber como as novas AVAs de Paso irão contribuir para o
fortalecimento da noção de terroir da
região.
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