Há cerca de quinze anos atrás quando me interessei com
mais afinco pelos vinhos do Porto, meu amigo de tantos copos e cofundador desse
blog me deu a dica: os “LBVs são um dos melhores custos-benefícios dentre os
vinhos do Porto”. Realmente, os Late Bottled Vintages custam bem
menos do que seus irmãos mais velhos e conhecidos, os Portos Vintages.
Mas afinal, o que são os Portos Late Bottled
Vintage? Qual seu processo de vinificação? Qual a diferença para os Portos Vintages?
O que esperar desses vinhos?
Primeiro, precisamos revisitar alguns conceitos
básicos sobre vinhos do Porto. Os Portos são vinhos únicos e fortificados, ou
seja, são vinhos nos quais, quando a fermentação chega a 5-9% vol., adiciona-se
aguardente vínica neutra, interrompendo-se a fermentação. Esse processo é
chamado pelos franceses de mutage, e a adição de aguardente vínica
durante a fermentação mata as leveduras, fazendo com que o vinho fique com uma
doçura considerável e com um nível alcóolico entre 19% e 22% vol.
Os vinhos do Porto tintos se dividem em duas grandes
categorias: Ruby e Tawny. Basicamente a diferença entre essas
categorias - que vão contar, por seu turno com diversas subcategorias - reside
no tipo de recipiente utilizado e um maior ou menor contato do vinho com
oxigênio durante seu envelhecimento.
Nos vinhos do tipo Ruby os produtores buscam
minimizar o efeito do oxigênio no vinho, envelhecendo os vinhos em grandes
recipientes de carvalho ou em tanques de aço inox por curtos períodos.
Já os Tawnies envelhecem por longos períodos
e de forma oxidativa em “pipas”, que são barris de carvalho menores que os
usados para os vinhos do tipo Ruby.
Os LBVs, por seu turno, são uma categoria de vinhos
do Porto Ruby. Segundo o Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, o
vinho Late Bottled Vintage é um “Porto Ruby de um só ano, selecionado
pela sua elevada qualidade engarrafado depois de um período de envelhecimento
de entre quatro a seis anos” (https://www.ivdp.pt/pt/vinhos/vinhos-do-porto/categorias-especiais/).
Os vinhos do Porto Late Bottled Vintage
foram criados em 1970 por Alistair Robertson, atual presidente da Taylor’s,
como uma espécie de segundo vinho, uma alternativa aos Portos Vintage. O
objetivo era um vinho mais em conta que os Portos Vintage e que também
estivesse pronto para ser bebido mais cedo.
Os LBVs são sempre de uma única safra, tal qual os Vintages,
e envelhecem de 4 a 6 anos antes de serem engarrafados.
Mesmo dentro da categoria dos LBVs há algumas
distinções. A maior parte dos vinhos LBV é filtrada e estabilizada antes do
engarrafamento. São mais similares aos Portos Ruby de entrada e
reservas, já prontos para beber quando lançados no mercado e raramente se
beneficiando do envelhecimento em garrafa, ao contrário dos Portos Vintage. São
exemplos desse estilo os vinhos LBV das casas Càlem, Ramos Pinto, Cockburn’s
e Sandeman.
Um segundo tipo de vinhos do Porto Late Bottled
Vintage consiste em vinhos que não são filtrados antes do engarrafamento.
Esses vinhos são mais similares aos Portos Vintage e podem se beneficiar
de tempo em garrafa. Por não serem filtrados, possuem um depósito de sedimentos
no fundo da garrafa e por vezes precisam ser decantados. Exemplos desse tipo
são os vinhos LBV das casas Taylor’s, Fonseca, Smith Woodhouse, Quinta do Crasto,
Graham’s e Dow’s.
Como aprendi anos atrás com meu amigo e pude
comprovar ao longo dos anos, os vinhos do Porto Late Bottled Vintage
podem ser excelentes opções aos Vintages, em especial em épocas de
câmbio tão desfavorável para nós brasileiros.
Saúde!
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