Nos primórdios desse blog,
a partir de uma viagem em maio de 2011 por três das principais regiões
vinícolas californianas - Napa, Sonoma e a então pouco conhecida Paso
Robles -, escrevi uma série de posts intitulados “Descobrindo a
Califórnia” (três inicialmente e com o passar dos anos vieram mais alguns,
que o leitor pode ler aqui e aqui).
Em um determinado ponto
da nossa jornada, ao viajarmos de Healdsburg, no norte, para Paso
Robles, no sul, a nossa road trip foi interrompida, lá pela metade
do Big Sur (uma cadeia de montanhas rente ao mar que divide o sul do
norte da Califórnia) na lendária Highway 1, por conta de uma avalanche.
Tivemos, então, que pegar uma estrada secundária e sinuosa entre as montanhas,
o que nos fez perder bastante tempo.
Enfim, chegamos em Paso
e, como escrevi em post anterior sobre aquela parte da viagem, jantamos no
restaurante Enoteca (do Hotel La Bellasera), um “suculento
rib eye com uma taça de Wild Horse 2007 Cabernet Sauvignon, nosso primeiro
vinho de Paso Robles”.
Aquele vinho, um rótulo
de entrada da vinícola, ficou gravado na memória deste enófilo. Infelizmente
naquela viagem não conseguimos visitar a Wild Horse. Nos anos
seguintes, sempre que encontrava em viagens um rótulo da Wild Horse,
tomava.
Muitos anos depois, em
uma nova viagem à Califórnia, retornamos a Paso Robles, e já com o firme
propósito de visitar a Wild Horse Winery & Vineyards.
E a nossa visita
superou as expectativas. Minha esposa e eu com duas crianças fomos muito bem
recebidos e lá passamos uma tarde inesquecível.
Antes de passar aos
vinhos, um destaque. A vinícola é kids friendly, e foram oferecidos
suquinhos de maçã, frutas para alimentar as duas lhamas que lá residem (uma
delas, a Dolly, batiza um dos vinhos de alta gama da vinícola), e ainda havia
no gramado o tradicional e popular jogo norte-americano Cornhole (no
Brasil, chama-se “jogo do saco de feijão”, leia aqui), para as crianças se
entreterem enquanto os pais degustavam os vinhos.

No tasting room
aprendemos sobre a vinícola e sua filosofia, e descobrimos que a Wild Horse
tinha muito mais a oferecer do que os excelentes vinhos de entrada que até
então conhecíamos (Cabernet Sauvignon, Merlot) e mais facilmente encontrados
nas grandes lojas de vinhos norte-americanas (Total Wine & More,
Wine.com etc...).
A Wild Horse Winery
& Vineyards se localiza em Templeton, na região de Paso
Robles e recebe seu nome dos cavalos selvagens que habitam as colinas ao
leste da vinícola. Há um vinhedo contíguo à sede. Essa estratégica localização
permite que a Wild Horse busque uvas de vinhedos de diversas outras AVAs
(American Viticultural Area) da chamada Central Coast (Arroyo
Grande, Edna Valley, Santa Maria Valley, Santa Barbara, Monterey, Santa Rita
Hills etc...).
A Wild Horse Winery
& Vineyards oferece uma grande gama de vinhos brancos (Grenache
Blanc, Viognier, Chardonnay, Malvasia Bianca) e tintos (Cabernet
Sauvignon, Merlot, Grenache, um inesperado Blaufrankisch, etc...), todos
de altíssima qualidade. Os vinhos com a Pinot
Noir são um capítulo à parte, e fazem parte da filosofia da Wild Horse
de elaborar vinhos de vinhedos únicos, de AVAs diversas e
próximas, de forma a destacar as nuances dos diferentes terroirs da Central
Coast.
Fizemos então um
verdadeiro passeio pelos diversos terroirs da Central Coast,
guiados pelos vinhos da Wild Horse, e degustamos os seguintes rótulos:
- Chardonnay Reserve
Santa Barbara County 2015: Um vinho opulento, típico Chardonnay
californiano “amanteigado”, porém na medida certa.
- Chardonnay Cheval
Sauvage Santa Maria Valley 2015: Outro belíssimo Chardonnay, mais
austero que o anterior, porém igualmente delicioso. No entanto, pela diferença
de preço o anterior ganha fácil no quesito custo x benefício;
- Pinot Noir Reserve Sta. Rita Hills 2014: Uma das AVAs
principais e mais reconhecidas para Pinot Noir em Santa Barbara County, com vinhos
opulentos, com muita fruta negra, boa acidez e notas de chá;
- Pinot Noir Reserve
Arroyo Grande Valley 2014: quando o provamos da primeira vez percebemos que
mais alguns anos tornariam esse vinho ainda melhor e mais complexo, o que
percebemos recentemente ao revistá-lo;- Pinot Noir Reserve Righetti
Vineyard Edna Valley 2015: O mais potente dos Pinots da degustação, porém sem
perder a tipicidade da cepa, e um dos nossos preferidos;
- Pinot Noir Reserve
Bien Nacido Vineyard Santa Maria Valley 2015: O meu Pinot preferido na
degustação e oriundo de um dos crus californianos. Um imenso potencial
de guarda.
- Pinot Noir Cheval Sauvage Santa
Maria Valley 2014: Um Pinot mais “fresco” que os anteriores, porém
igualmente elegante.
- Malbec Reserve
Paso Robles 2014: Um vinho menos potente que os argentinos, porém apresentando
a tipicidade da uva;
- Blaufrankisch
Reserve Paso Robles 2015: Esse foi degustado por ser inusitada essa casta
na Califórnia, porém não nos encantou;
- Dolly Llama
Reserve Paso Robles 2014 (44% Cabernet Sauvignon, 22% Petit
Verdot, 21% Grenache, 13% Syrah): em geral, somos “arredios” a
esses assemblages não clássicos. No entanto, esse vinho nos encantou no
primeiro gole e trouxemos três garrafas dele... Todas essas lembranças
vieram à tona recentemente, ao degustarmos um espetacular Wild Horse Pinot
Noir Reserve Arroyo Grande Valley 2014, um dos vinhos que provamos e compramos
na ocasião e, imediatamente, fomos transportados para aquela inesquecível tarde
em Templeton.
Rememorar boas
experiências é um dos grandes prazeres de um wine hunter... Cheers!
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