Quando pensamos na Espanha e nos seus vinhos, a
grande referência, sem qualquer dúvida, é a uva tinta Tempranillo e seus
vinhos tintos.
Porém, existem diversas outras uvas, entre brancas
e tintas, produzindo estilos variados de vinhos, dos espumantes aos tranquilos,
passando pelos fortificados como os vinhos Jerez e de Montilla-Moriles.
Há na Espanha cerca de 84 variedades autóctones, algumas esquecidas em
denominações de origem menos conhecidas.
Os vinhos brancos (tranquilos) espanhóis mais
conhecidos são os elaborados com a Vedejo (sobretudo os da DOP Rueda),
com a Garnacha Blanca (DOPs Rioja, Terra Alta, Tarragona, Costers del
Segre, Priorato) e, nas DOPs da Galícia, com a Albariño.
No entanto, há uma outra cepa - hoje minha
uva branca preferida na Espanha - que vem produzindo vinhos espetaculares, a Godello.
Em recente viagem à Espanha procurei provar o
maior número possível de vinhos galegos com a Godello, explorando suas
nuances. Esse prazeroso exercício reforçou a predileção por essa uva
branca.
A partir de um plano governamental de modernização
dos vinhedos de Valdeorras - uma pequena DOP galega às margens do rio Sil,
entre as DOPs da Ribeira Sacra (Galiza) e do Bierzo (Castilla
y León) – iniciado em 1974 e liderado por Horacio Fernández e por Luís
Hidalgo, a Godello acabou salva da extinção, passando do ostracismo
à redenção.
O plano, adequadamente batizado de REVIVAL (Reestructuración
de los Viñedos de Valdeorras), tinha por objetivo recuperar, potencializar
e melhorar o aproveitamento das cepas da região para produzir vinhos de alta
qualidade, mudando a tendência predominante à época de abandono dos vinhedos e
uso de técnicas ultrapassadas. O REVIVAL conseguiu seus objetivos e serviu de
modelo para iniciativas similares na Espanha.
Nesse contexto, descobriu-se que a Godello estava
quase extinta, com poucas vinhas, isoladas e não atingidas pela Filoxera. Optou-se,
assim e principalmente na década de 1980, por replantar vinhedos com a Godello.
A Godello é encontrada nas DOPs galegas de Valdeorras,
Ribeira Sacra, Ribeiro e Monterrei, e na vizinha região de Castilla
y León.
A Godello
se adapta bem a locais secos e
apresenta de média a alta acidez. É uma uva de brotação e amadurecimento
precoces, mais fértil e produtiva do que a Albariño.
Na Espanha, pode ser encontrada em vinhos
monovarietais, como nas DOPs da Galícia, ou em assemblages (v.g.
Bierzo).
A Godello origina vinhos estruturados,
intensos e concentrados, com bom corpo e elegante mineralidade, e que se
adaptam bem à fermentação em barrica.
Em Portugal a Godello possui vários nomes (Agodello,
Agodenho, Ojo de Gallo, Trincadente etc), e o mais famoso é a Gouveio
(Douro). No Douro, em regra, origina vinhos de médio corpo e com acidez mais
elevada, e quase sempre em cortes com as uvas brancas Viosinho, Rabigato,
Malvasia Fina e Códega do Larinho.
No Dão é chamada de Verdelho do Dão, não
devendo ser confundida com a Verdelho da Madeira nem com a Verdejo
espanhola.
Uma uva de alta qualidade, que quase foi extinta,
mas hoje vive seu “revival” ou sua redenção.
Saúde!
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