Pomerol é uma pequena AOC (Appellation
d'Origine Contrôlée) no Libournais, região de Bordeaux, e uma
das mais prestigiosas apelações da chamada “margem direita”.
A história da viticultura e da
produção de vinhos no Pomerol remonta à ocupação romana. No entanto, o
desenvolvimento dessa sub-região bordalesa foi bem distinto das apelações da
“margem esquerda” (Saint Julien, Margaux, Paulliac etc.) ou ainda da sua
vizinha Saint-Émilion. Sua produção aumentou e diminuiu drasticamente ao
longo dos séculos.
No Pomerol não houve, como
no Médoc, influxos de nobres ricos e banqueiros abastados construindo
seus grandes châteaux. Ao revés, a região permaneceu com uma paisagem
rural, com algumas fazendas, sem grandes mansões.

Os solos de Pomerol são
mais “frios” que os solos das apelações da “margem esquerda”, ou seja, têm presença
dominante de argila e calcário. São solos mais densos e, por isso, retêm a
umidade, não acelerando o processo de amadurecimento das uvas. Em algumas
partes, como em um pequeno platô na localidade, há presença de cascalho, e é
onde se localizam alguns dos melhores vinhedos. Para o oeste da apelação os
solos argilosos (uma argila azul chamada de molasse) são ricos em ferro
e conhecidos como crasse de fer, produzindo vinhos complexos.
Por conta desse tipo de solo, Pomerol
é o pináculo da Merlot, a principal uva da apelação (80% dos
vinhedos). Em geral, a Merlot acaba complementada pela Cabernet Franc
e por um pouco da Cabernet Sauvignon. Não raro os vinhos são quase 100%
elaborados com a Merlot.
Por outro lado, Pomerol não
conta - ao contrário do Médoc, de Graves, de Sauternes/Barsac e Saint-Émilion
– com um sistema de classificação específico. No entanto, alguns dos vinhos
mais caros e cobiçados do mundo vêm do Pomerol, como o Château Le Pin
e o Château Pétrus.
Apesar disso, o Pomerol costuma
guardar bons achados, mesmo de pequenos produtores pouco conhecidos, com preços
acessíveis aos reles mortais.
Um dos grandes achados do Pomerol
é, sem dúvida, o Château Clinet. Por conta de sua filosofia em manter
longas relações com seus apreciadores, o Château Clinet ainda se mostra
acessível, entregando uma alta qualidade em seus vinhos, sem preços
astronômicos.
O Château Clinet é um dos
mais antigos vinhedos do Pomerol datando de 1785. Após pertencer às
famílias Constant e Arnaud (a última proprietária do Château
Petrus), de 1900 a 1991 pertenceu à família Audy (négociants
e proprietária de diversas vinícolas bordalesas).
No final da década de 1970 Jean
Michel Arcaute se tornou o diretor do Château Clinet, que começou a
produzir os melhores vinhos em sua história até então. Duas das principais
mudanças introduzidas por Jean Michel Arcaute foram a colheita das uvas
o mais maduras possível e a diminuição dos percentuais de Cabernet Sauvignon
nos vinhos e nas áreas de vinhedos plantados.
Nessa mesma época, Michel
Rolland foi contratado como consultor do Château Clinet ficou até
2014), buscando elaborar vinhos para rivalizar com os melhores do Pomerol.
Houve então aumento no uso de barricas novas de carvalho francês e do tempo do
vinho em barrica.
Em 1991 o Château Clinet
foi vendido para um grupo de seguros, e posteriormente em 1998 foi vendido para
a família Laborde, iniciando-se então uma nova era.
A partir da safra de 2004, o jovem
Ronan Laborde, abandonando uma promissora carreira de maratonista
profissional, passou a gerenciar a propriedade.
Ronan Laborde realizou diversas mudanças, como
replantio de 20% dos vinhedos, redução de uso de barricas novas de carvalho
francês (de 100% para 60%), expandiu os vinhedos e até mesmo criou uma linha de
vinhos mais acessíveis, a Ronan by Clinet.
Atualmente, o Château Clinet
conta com 11.5 hectares de vinhedos plantados, com 75% Merlot e 25% Cabernet
Sauvignon, com uma mínima quantidade de Cabernet Franc, divididos em
21 parcelas distintas, com vinhas com a média de 45 anos de idade (há algumas
bem mais velhas). Dentre essas parcelas, destaca-se a chamada La Grande
Vigne, com solos de argila e cascalho no topo, plantada apenas com a Merlot
e considerada a melhor de todas, aportando complexidade e profundidade aos vinhos.
Nessa parcela estão as mais antigas vinhas da propriedade, com algumas
plantadas em 1934. La Grande Vigne representa 20% do vinho Château
Clinet, sendo sua espinha dorsal.
Os solos do Château Clinet são
um mosaico de cascalho, argila e solos arenosos ricos em ferro.
O Château Clinet produz,
como normalmente ocorre em Bordeaux, um segundo vinho, o Fleur de
Clinet (que antes de 1997 se chamava Domaine du Casse), elaborado já
há alguns anos com uvas apenas da propriedade e desclassificadas para o
primeiro vinho da vinícola.
Recentemente tive a oportunidade
de degustar e comparar duas excepcionais safras do Château Clinet, 1990
e 2010.
O Château Clinet 1990,
ainda com o rótulo anterior, da fase de Jean Michel Arcaute e Michel
Rolland, mostrou-se incrivelmente complexo, aveludado e elegante, bem
concentrado. Apesar dos aromas terciários de terra, trufas, tabaco e ameixa
seca e notas de cacau, apresentava o frutado (cerejas, ameixa negras).
Nitidamente o vinho conta com mais uma década à frente.
Já o Château Clinet 2010,
com o rótulo novo e considerado um dos melhores produzidos na nova fase
inaugurada por Ronan Laborde, mostrou-se, aos doze anos, ainda jovem,
com muita fruta negra presente, como ameixas, alcaçuz e nozes. Taninos polidos
e aveludados.
Dois vinhos espetaculares que
mostraram a evolução dos vinhos do Château Clinet e o seu estilo.
Uma experiência memorável!
Santé!
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