A
Alsácia é uma região única, uma fusão das culturas francesa e alemã decorrente
de fatores históricos, como as diversas mudanças em seu domínio. Uma região
francesa em que a noção de terroir se destaca, porém convive com os nomes
germânicos de diversos de seus vilarejos e vinhedos (e.g. Altenberg de
Bergheim). Na Alsácia, onde 90% da produção é de vinhos brancos, os nomes
das uvas em geral estão nos rótulos, as garrafas (flutes) são longas e
estreitas, e até alguns anos atrás era a única região francesa autorizada a
cultivar a Riesling.
Tal
razão se deve ao fato de a Alsácia possuir a proteção natural da cadeia de
montanhas Vosges. Essa barreira natural a oeste da Alsácia protege a
região dos ventos úmidos e das nuvens carregadas de chuva que vêm do Atlântico.
Por conta do efeito protetivo dos Vosges a Alsácia é quente e
ensolarada no verão. Isso acarreta o amadurecimento mais lento das uvas, com
mais complexidade aromática.
Como
anotamos em um dos posts que escrevemos em 2019 sobre a Alsácia (relembre aqui
e aqui), um dos temas atuais na Alsácia é a questão do grau de açúcar residual
nos vinhos brancos.
Tradicionalmente,
os vinhos brancos alsacianos, marcados pelo seu caráter aromático, sempre foram
vinificados como vinhos secos.
Há,
por outro lado, vinhos brancos alsacianos doces, de sobremesa (de colheita
tardia), mais especificamente as categorias Vendanges Tardives (podem ou
não ser afetados pelo fungo Botrytis Cinerea, a chamada “podridão
nobre”) e Sélections de Grains Nobles (obrigatoriamente precisam ser
afetados pela Botrytis Cinerea), que podem se situar nas AOPs comum ou
nas Grand Cru.
No
entanto, em virtude das mudanças climáticas nos últimos anos, mais e mais
vinhos da Alsácia passaram a apresentar maiores graus de açúcar residual,
deixando de ser propriamente secos. Isso ocorre por conta do aumento das
temperaturas médias, que somada à proteção natural dos Vosges, acarreta uvas
colhidas com maior teor alcóolico, e muitas vezes a fermentação termina antes
mesmo de todo o açúcar se converter em álcool.
Assim,
vinhos anteriormente elaborados para serem secos, passaram a ter um maior
dulçor, passando a ser meio secos. Ou seja, houve uma considerável mudança no
estilo dos vinhos alsacianos.
Na safra de 2008 chegou a ocorrer uma pequena mudança regulamentar buscando preservar o estilo seco dos vinhos elaborados com a Riesling, criando-se, em apertada síntese, um nível máximo de 0,9% de açúcar residual (9 g/l), havendo ainda alguns desdobramentos técnicos na regra. Essa regulamentação era válida apenas para vinhos elaborados com a Riesling da AOP Alsace, não se aplicando a vinhos desta AOP com indicação de lieu-dit ou com villages, nem às AOPs Grand Cru. Mesmo assim não havia indicação na rotulagem, que era opcional.
Assim,
muitas vezes estamos diante de um vinho branco alsaciano sem saber se é
realmente seco ou meio seco (demi-sec).
Como
anotamos antes, alguns produtores, como o Domaines Schlumberger ou o Dopf
au Mouloin, colocam indicações nos contrarrótulos das escalas de doçura de
seus vinhos (inclusive os Grand Crus), não abrangendo os Vendanges
Tardives e Sélections de Grains Nobles. Tais escalas, justamente por
não estarem regulamentadas, variam de produtor para produtor.
No
entanto, recentemente foi dado um primeiro passo para regulamentar os graus de
doçura dos vinhos brancos vinificados como secos. Essa nova regulamentação se
aplicará a partir da safra de 2021 e apenas aos vinhos da AOP Alsace,
não se estendendo, por ora, aos vinhos das AOPs Grand Cru (lembrando que
na Alsácia, cada Grand Cru é uma AOP autônoma).
A
nova escala visualmente é bem similar as que alguns produtores já utilizavam,
porém, definindo os parâmetros de doçura:
- Seco (sec): açúcar residual até 4 g/l;
- Meio Seco (demi-sec): açúcar residual entre 4 g/l e 12 g/l;
- Meio doce (moelleux): açúcar residual entre 12 g/l de 45 g/l;
- Doce (doux): açúcar residual acima de 45 g/l.
Além
de constar na rotulagem, as novas informações obrigatórias sobre o grau de
doçura (i.e. açúcar residual) dos vinhos deverá constar em material de
propaganda, embalagens etc. A intenção é facilitar a informação para o
consumidor de vinhos, que saberá exatamente o tipo de vinho que está
adquirindo.
Esperamos
que futuramente essa regulamentação se estenda aos vinhos das AOPs Grand Cru
alsacianas.
Santé!
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