Costumo dizer que não há um mundo do vinho, mas diversos mundos. Cada
país, cada região, apresenta sua própria lógica, seus próprios hábitos que vão
desde a forma como o consumidor local interage com o vinho (harmonizações, os
vinhos que usa como aperitivo, para iniciar uma refeição ou para encerrar etc...),
a maneira como se adquire os vinhos domésticos (clubes locais, lojas, compras
diretamente das vinícolas), passando pelo enoturismo, até a produção em si
(técnicas utilizadas, as uvas em si etc...).
Para entender o ponto de vista do enófilo local, busco sempre revistas,
guias, livros locais especializados.
Junto com a visita do local em si, é uma excelente forma de mergulhar em um
novo mundo do vinho.
No Brasil, sempre me ressenti que não houvesse uma obra que apresentasse um
amplo e detalhado panorama da indústria do vinho fino brasileiro (no Brasil,
utiliza-se o termo “vinho fino” para vinhos elaborados com uvas vitis vinífera em contraposição aos
“vinhos de mesa” elaborados com outras variedades como as vitis labrusca).
Entretanto, há algumas semanas me deparei com o livro Vinho Fino Brasileiro, do especialista e professor da Fundação
Getúlio Vargas Rogerio Dardeau, e publicado pela Mauad X. Já
havia lido, muitos anos antes, Vinhos –
Uma Festa dos Sentidos do mesmo autor e não relutei em comprar seu novo
livro, lido em apenas alguns dias.
Vinho
Fino Brasileiro apresenta o atual estágio do vinho brasileiro,
sem descuidar em contar os primórdios da indústria vitivinícola nacional, traçando
um acurado panorama histórico. Além do aspecto histórico, são apresentadas ao
leitor as práticas e uvas utilizadas, as regiões produtoras (mesmo as menos
conhecidas), e até mesmo sugestões de harmonizações com pratos da culinária
brasileira.
Por outro lado, o livro apresenta a sistemática legal brasileira sobre o
tema, detalhando e simplificando-a para o leitor, com destaque para as
modalidades de indicações geográficas (Denominação de Origem – DO, e Indicação
de Procedência - IP).
No entanto, a grande contribuição de Rogerio
Dardeau reside nas sugestões de conceitos e de sistematização do vinho
nacional e os respectivos terroirs. Dentre
os conceitos apresentados, o de “vinho brasileiro de terroir” (VBdT) é o grande destaque, em nossa humilde opinião. Já
na sistematização, a proposta do autor em classificar os produtores (“Vinícolas
tradicionais de grande porte”, “Vinícolas tradicionais de médio porte”,
Vinícolas tradicionais de pequeno a médio portes”, “Vinícolas-butique”, “Vinhos
de autor ou de garagem” e “Grandes investimentos vitivinícolas do Vale do Rio
São Francisco”) permite ao leitor se situar com segurança no amplo cenário do
vinho nacional, mostrando-se uma importantíssima contribuição ao tema.
Vinho
Fino Brasileiro serve ainda de guia ao enófilo em suas compras ou viagens, listando, senão todas, quase todas as vinícolas em atividade
no país, contando um pouco das história de cada uma (em viagem ao Vale dos
Vinhedos, RS, vi um visitante em uma vinícola consultando o livro enquanto
degustava).
Uma obra essencial à biblioteca de qualquer enófilo, mostrando a grande
revolução em curso no mundo do vinho brasileiro. Saúde!
Um comentário:
Carlos, muito bom o post! Vou procurar o livro para adquirir e também me entreter com sua leitura! Abraços,
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