A identificação do vinho pela uva e não pelo local foi uma das maneiras encontradas pelos produtores do chamado "novo mundo" para desmistificar o vinho junto aos consumidores. Essa fórmula, inventada pelos norte-americanos no decorrer dos anos 1970, passou a ser amplamente empregada por produtores de países do novo mundo.
Não há dúvida de que essa fórmula de identificação do vinho ajudou a
formar novos consumidores e enófilos, mostrando-se extremamente útil em países
cuja tradição vitivinícola era recente.

No entanto, com o passar dos anos e uma maior educação dos apreciadores
de vinhos, esse cenário no novo mundo vem mudando, com consumidores buscando
vinhos que reflitam o local de origem, o terroir.
Há, assim, uma forte tendência em se destacar o local de origem do
vinho, com um aumento em países do novo mundo de denominações de origem e seus
equivalentes (por exemplo, no Chile, as divisões de alguns vales em até três
microrregiões, Andes, Entre Cordilleras e Costa), destacando cada vez mais as particularidades do terroir local.
Seguindo essa tendência, houve um drástico aumento no número de AVAs (American Viticultural Area) nos Estados
Unidos nas últimas décadas, inclusive com a criação de AVAs dentro de outras
AVAs, como, por exemplo, Red Mountain
em Washington inserida dentro da AVA Yakima Valley, a qual, de seu turno,
está inserida na AVA Columbia Valley (sobre
AVAs e terroir na Califórnia leia
aqui e aqui). Esse movimento, apesar das descabidas críticas de que confundiria
o consumidor de vinhos, se mostra primordial para o fortalecimento de uma
identidade cultural-vinícola e construção da própria noção de terroir.

Esse destaque do vinhedo no rótulo do vinho tem inspiração clara nos crus franceses, sobretudo de regiões
como Bourgogne, Alsace e Champagne, em especial a primeira. Claro
que sem qualquer sistema oficial de classificação como ocorre nas regiões
francesas mencionadas.

Em suma, a indicação de vinhedos em vinhos americanos merece ser
conhecida, até porque pode ser mais um guia na hora da escolha de vinhos em
viagens aos Estados Unidos, mormente quando diante de inúmeras opções e pouca
disponibilidade de espaço na bagagem.
Em Washington, a segunda maior
região produtora de vinhos dos Estados Unidos, reconhecida pela excelente
relação qualidade-preço (leia mais aqui),
o vinhedo Ciel du Cheval é um dos
mais renomados e reconhecido pela alta qualidade de seus vinhos.
Embora o nome nos remeta à vizinha AVA Horse Heaven Hills, o vinhedo Ciel
du Cheval está localizado no centro de Red
Mountain, AVA datada do ano de 2001 e a menor do Estado de Washington.
O vinhedo foi estabelecido em 1975 e, desde então, tem fornecido uvas
para diversos produtores (Fidelitas,
Seven Hills Winery, Mark Ryan, Betz Family, Cadence, Andrew Will etc...) que
possuem contratos para fornecimento de uvas oriundas do vinhedo. Daí porque
podemos encontrar vinhos elaborados a partir de uvas do Ciel du Cheval de diferentes vinícolas, muitas sequer localizadas
em Red Mountain, como a Seven Hills Winery (um dos meus
preferidos). Desde 2012 os proprietários passaram a produzir vinhos próprios,
somente com uvas do Ciel du Cheval,
com o projeto Côtes de Ciel.
Ciel du
Cheval possui 120 acres, dos quais 102 são de vinhas, 3 acres sem cultivo, e 15
acres com estradas e edificações diversas.
O vinhedo é dividido em 36 parcelas, com medida de 2,84 acres, cada qual
com seu próprio planejamento no que tange à exposição e à orientação das
vinhas, planejamento de irrigação etc... No entanto, cultivo mecânico, não
utilização de herbicidas, e colheita manual são práticas comuns em todo o
vinhedo.

Os vinhos elaborados com a Cabernet
Sauvignon, sejam varietais, sejam cortes bordaleses, e os elaborados com a Syrah são incríveis e de uma elegância
única, os meus preferidos.
O que poucos sabem é que o reconhecimento da alta qualidade das uvas do
vinhedo Ciel du Cheval se deve também
ao fato de suas uvas terem sido utilizadas nos blends de cult wines de Washington, como os Quilceda Creek 2002, 2003
e 2005, os primeiros vinhos do Estado
a receberem 100 pontos do crítico Robert
Parker, trazendo fama à região.
Quando se deparar com uma garrafa de um vinho elaborado com uvas do
vinhedo Ciel du Cheval, não hesite e
não perca a oportunidade.
Cheers!
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