Apenas para ilustrar, o Maria Maria Syrah 2015 e o Luiz Porto Brut Colheita de Inverno ficaram, respectivamente, em primeiro lugar nas categorias Vinho Tinto e Espumante do Top 10 da Vini Bra Expo 2017, evento de vinhos ocorrido no último fim de semana no Rio de Janeiro.

Mas afinal,
o que vem a ser a técnica da “dupla poda”? Como ela afeta a qualidade do vinho?
O vinho é
um produto da interação do homem com a natureza. Se deixarmos a videira livre
para crescer, ela não utilizará seus recursos para amadurecer as uvas
para elaboração de vinhos, ela simplesmente crescerá. Por conta disso, esse
vigor da videira precisa ser controlado pelo viticultor. Para tanto, o produtor
conta com algumas técnicas como embardamento (estrutura de postes e arames
utilizadas nos vinhedos), poda e limitação da densidade de plantação das
vinhas. Depois, por meio de outras técnicas, terá que controlar a qualidade e a
maturação em potencial das uvas.
A poda,
segundo Karen MacNeil (autora do livro The
Wine Bible) é “o processo exaustivo
de cortar as videiras enquanto adormecidas durante o inverno (...) O que o
podador deixa ficar torna-se a base da colheita do ano seguinte. Se ele podar
com muito rigor, pode comprometer a capacidade frutífera e a força das
parreiras. Ao contrário, se podar muito pouco, as videiras produzirão tantos
galhos, folhas e frutos que ficarão desequilibrados”. Assim, a poda tem por
objetivo a retirada de folhas, bem como de varas e madeiras velhas que não têm
mais utilidade.
Há dois
tipos de poda, a chamada “poda de inverno” e “poda de verão”.
O escopo da
primeira é determinar o número e a localização dos gomos, que, por sua vez,
irão originar os ramos tenros (hastes da videira, pampres em inglês e em francês) que produzirão as uvas na colheita
seguinte.
Já as
chamadas podas de verão, também denominadas de “podas verdes”, objetivam
restringir o crescimento vegetativo de forma a direcionar a produção de açúcar
pela videira para as uvas e não para as folhas ou hastes. Buscam podem se prestar também a remover os cachos em excesso como forma de limitar a produção. As podas verdes podem
se limitar apenas à retirada de folhas de forma a proporcionar maior exposição
solar aos cachos da videira.
A chamada
“dupla poda”, na verdade, se refere à “poda de inverno” e foi criada há mais de
dez anos pelo pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais
(Epamig) Murillo de Albuquerque Regina.
Trata-se de
técnica que inverte o ciclo natural da videira por meio de um manejo
diferenciado das podas. Com isso, a videira passa a frutificar no inverno,
evitando-se as altas temperaturas do verão (dia e noite), bem como as chuvas e
alta umidade típicas dessa estação.
No inverno,
em certas regiões, em especial no sul de Minas Gerais e em alguns pontos do
Estado de São Paulo, há frio à noite, e insolação durante o dia, com baixa
precipitação e com boa amplitude térmica, condições favoráveis à vinha.
Na “dupla
poda”, a primeira poda tem por objetivo a formação de ramos produtivos, e a
segunda é a poda efetiva de frutificação. A videira, então, começa a brotar em
fevereiro, floresce em março e os cachos começam a se formar em abril,
ocorrendo a colheita a partir do final de junho e ao longo de julho (a depender
do tipo de uva).
Observe-se
que a chamada “colheita de inverno” não ocorre nos mesmos meses das colheitas
das regiões do Hemisfério Norte (estas começam no final de agosto e se estendem até
início de outubro, dependendo da variedade de uva).
Essa
técnica, no entanto, não é recomendada para regiões no sul do país, com
invernos rigorosos.
Nem
tampouco é útil em regiões extremamente quentes, como o Vale do Rio São
Francisco, em que mesmo no inverno não ocorre a amplitude térmica.
As
“colheitas de inverno” apontam para um novo rumo da viticultura brasileira,
permitindo que novos terroirs
brasileiros possam surgir, aumentando a gama de excelentes vinhos nacionais.
Saúde!
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