Experiências das mais interessantes ocorreram-me em restaurantes, sempre sob a batuta de um
experiente sommelier, descobrindo não
apenas novos vinhos mas também novas harmonizações (relembre o post Como Falarcom um Sommelier).
Nostalgicamente recordo-me de uma
ida anos atrás ao Le Bernardin em que
todas as etapas da refeição composta por peixes e frutos do mar foram
audaciosamente escoltadas por tintos da Borgonha (ali aprendi as sutilezas de
maridar salmão e Pinot Noir, em casos
específicos, é claro).
Mesmo quando levamos um vinho ao
restaurante, o conselho do sommelier
sempre é oportuno, indicando a harmonização adequada.
O sommelier é um profissional de suma importância não apenas para o
serviço do vinho em si, mas para espraiar a paixão pelo vinho com seu conselho
decisivo.
Mas de onde vem a palavra
“sommelier”, que sequer foi traduzida para o português?
Tudo começa com animais de carga,
em francês as bêtes de somme. O termo sommelier remonta à
palavra grega Σαγμα,
em latim traduzida como sauma, ou seja, “carga”!
A responsabilidade de cuidar dos
“animais de carga” pode parecer de importância menor, mas, na realidade,
dependia de quem os sommeliers da Idade Média serviam. Podemos imaginar a imensa responsabilidade quando
se tratava do cortejo de um monarca ou nobre em viagem.
O primeiro Sommelier mencionado
na língua escrita francesa apareceu num romance do século XIII. Este evocava
justamente as aventuras do famoso cavaleiro da Távola Redonda Perceval.
Um pouco mais tarde, encontramos
o termo como “oficial da guarda e do transporte das bagagens da Corte” e depois
como “responsável dos lençóis da Rainha”.
No entanto, é somente a partir do
século XVII, exatamente em 1671, sob o reinado do grande rei Louis XIV em Versailles que apareceu a específica
responsabilidade do Sommelier relacionada à bebida preferida
dos franceses.
A partir desse momento, os Sommeliers passaram a ser
associados com o vinho e, no final do século XIX, encontramos por exemplo, um
texto como esse : « Les grands vins font leur entrée
triomphale, et le sommelier annonce avec orgueil des noms et des dates
illustres, selon ce qu'a choisi, pour la solennité du jour, l'amphitryon:
Château-Margaux 69, Château-Latour 75... ». E não eram Château Margaux 1969 e Château Latour 1975, e sim,
respectivamente, 1869 e 1875.

Por um tempo, existiu a palavra
“Echanson” em francês, provinda d apalavra Skankjo trazida pelo povo franco no século V. O significado era
também ligado com um cargo numa casa senhorial ou mesmo real, também
encarregado da comida e da bebida dos nobres (inclusive provas para ver se a
comida ou bebida não estavam envenenados). Esse termo não é mais usado hoje na
França, embora tenha originado o termo “Escanção” ainda em uso em Portugal.
Um brinde, Monsieur Sommelier! Santé!
Este texto foi escrito
conjuntamente com Dominique Boyer, autor de Galicismos 50 Palavras Vindas do Francês , obra indispensável pelos entusiastas das línguas portuguesa e francesa.
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