Ao contrário das AOP/AOCs (Appellation d'Origine Protégée/Côntrolée)
do Rhône meridional, as do Rhône norte que produzem
vinhos tintos se centram em uma única uva: a Syrah.
Em quase todas as AOP/AOCs (Appellation d'Origine Protégée/Côntrolée)
do Rhône setentrional classificadas como Crus (AOPs
possuidoras de grande prestígio e renome), o vinho tinto elaborado com a Syrah
pode contar com acréscimos das uvas brancas Marsanne e/ou de Roussanne
(até 10% em Saint-Joseph, e até 15% em Hermitage e em Crozes-Hermitage)
ou da Viognier (até 20% em Côte-Rôtie, sendo que, em geral, é bem
menos, e a Viognier é normalmente co-plantada, colhida e fermentada
junto com a Syrah). A exceção é Cornas, que produz apenas vinhos
tintos elaborados 100% com a Syrah.
Eclipsada por seus irmãos mais famosos, Hermitage e Côte-Rôtie,
Cornas produz vinhos de alta qualidade e de guarda.
Os vinhedos de Cornas se localizam em terraços, que começam nas
imediações do vilarejo homônimo a 110 metros de elevação seguindo pela colina
até 420 metros de elevação.
No entanto, com o recente aquecimento global, os vinhedos no topo se
mostraram mais promissores que antes, com as uvas amadurecendo de forma
adequada. Jean-Luc Colombo foi um dos produtores que apostou em vinhedos
na parte mais alta, em posições bem íngremes, conforme tive a oportunidade de
verificar quando da visita em setembro de 2019 em que percorri os vinhedos de Cornas.
Há uma variação dos solos na AOC/AOP Cornas, dependendo do setor.
Na parte norte, perto do lieu-dit Les Chaillot, o solo é arenoso
e rochoso contendo algum giz e de cor marrom-avermelhada. Já o lieu-dit Quartier
de Reynard, no meio da colina 300 metros) apresenta um solo granítico. E ao
sul (La Côte e La Combe), o solo é predominantemente argiloso
Em Cornas podemos ver dois movimentos antagônicos, por assim
dizer. De um lado, os tradicionalistas como Auguste Clape, Noël
Verset, dentre outros, e responsáveis pelo “renascimento” dos vinhos de Cornas,
adotando técnica com pouco ou nenhum desengace das uvas, fermentação em
recipientes de concreto e amadurecimento em barricas mais antigas e sem uso de
carvalho novo. Advogam que são vinhos que precisam de cerca de dez anos para
chegar ao seu momento ideal.
Já na outra vertente, os modernistas (Jean-Luc Colombo, Alain Voge,
dentre outros) adotam técnicas diferentes como separação das bagas (grãos da uva) dos engaços (esqueletos de sustentação do
cacho) antes do esmagamento, fermentação em altas temperaturas, e uso de
barricas de carvalho novo (não em sua totalidade).
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